Você sabia que o cooperativismo foi reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade?
Esse reconhecimento aconteceu em 2016, durante a 11ª sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, realizada na Etiópia. Desde então, a “ideia e prática de organizar interesses comuns em cooperativas” faz parte da Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Esse marco reforça que o cooperativismo não é apenas um modelo econômico, mas também um patrimônio cultural vivo, transmitido de geração em geração e capaz de transformar comunidades inteiras. A inscrição reconhece os princípios cooperativos como um elemento cultural significativo, enraizado em valores de solidariedade, autogestão e participação comunitária.
O que é necessário para ser Patrimônio Cultural da Humanidade?
A UNESCO avalia cada candidatura com base em cinco critérios principais, conhecidos como R.1 a R.5. Eles funcionam como uma espécie de filtro que garante que apenas práticas com forte relevância cultural e social entrem para a lista.
- R.1: O elemento deve constituir patrimônio cultural imaterial, transmitido entre gerações.
- R.2: Sua inscrição deve aumentar a visibilidade do patrimônio e estimular o diálogo entre culturas.
- R.3: Devem existir medidas de salvaguarda que garantam sua continuidade.
- R.4: A comunidade deve participar ativamente da inscrição, reconhecendo o valor da prática.
- R.5: O elemento precisa estar incluído em inventários nacionais antes do registro internacional.
Com base nesses critérios, vamos entender por que o cooperativismo conquistou esse título.
R.1 – Resiliência cultural e transmissão histórica
O cooperativismo surgiu no século XIX, com experiências pioneiras de Friedrich Wilhelm Raiffeisen e Hermann Schulze-Delitzsch, na Alemanha. Desde então, a prática de se organizar em cooperativas tem sido transmitida de geração em geração, preservando valores como igualdade, solidariedade e ajuda mútua.
Além do aspecto econômico, a UNESCO reconheceu que o cooperativismo carrega também finalidades sociais e culturais. Associações voluntárias se dedicam à sua promoção e garantem que os conhecimentos sejam constantemente transmitidos. Essa resiliência histórica explica por que o cooperativismo é muito mais do que um modelo de negócios: ele é uma tradição cultural duradoura.
R.2 – Coesão social e soluções inovadoras
As cooperativas são descritas pela própria UNESCO como organizações que “permitem a construção de comunidade por meio de interesses e valores compartilhados, criando soluções inovadoras para problemas sociais”.
Isso se reflete em diferentes áreas:
- Inclusão financeira de pessoas antes excluídas do sistema bancário;
- Geração de emprego e renda em comunidades locais;
- Apoio a idosos e fortalecimento de laços sociais;
- Revitalização de bairros urbanos;
- Projetos de energia renovável, educação e saúde.
Ao destacar esses pontos, a UNESCO reconheceu que o cooperativismo fortalece a coesão social e contribui para o desenvolvimento sustentável. Além disso, sua inscrição aumenta a visibilidade do patrimônio cultural imaterial e reforça o diálogo entre povos e culturas.
R.3 – Adequação e salvaguardas
Para permanecer vivo, um patrimônio precisa ser cuidado. No caso do cooperativismo, existem sólidas medidas de salvaguarda:
- Programas de educação cooperativa em escolas, universidades e centros de formação;
- A atuação da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) na difusão de princípios;
- Políticas públicas que valorizam o setor;
- Museus, arquivos e centros de pesquisa que preservam sua memória.
Essas ações garantem que o cooperativismo seja transmitido às próximas gerações, mantendo sua relevância cultural e social.
R.4 – Participação da comunidade
Outro ponto forte da inscrição foi a participação das próprias comunidades cooperativas. Testemunhos, declarações e evidências foram apresentados como prova de que os próprios cooperados reconhecem o valor cultural da prática.
Embora a candidatura tenha sido formalizada pela Alemanha, o reconhecimento tem caráter global, pois reflete a voz de milhões de cooperados espalhados pelo mundo.
R.5 – Reconhecimento nacional
Antes de alcançar a lista internacional, o cooperativismo já havia sido incluído no Inventário Nacional de Patrimônio Cultural Imaterial da Alemanha. Esse reconhecimento prévio fortaleceu a candidatura, provando que a prática já era valorizada como patrimônio cultural em nível nacional.
Por que esse reconhecimento é importante?
O reconhecimento da UNESCO em 2016 foi um passo fundamental para dar mais visibilidade ao movimento cooperativo. Ele mostrou que o cooperativismo não é apenas uma forma de organizar negócios, mas uma maneira única de organizar a vida social e econômica, baseada na confiança, na solidariedade e na participação democrática.
Além disso, reforça o papel das cooperativas como instrumentos de transformação social, capazes de unir tradição e inovação, história e futuro, cultura e prática social.
Um legado para a humanidade
Ao declarar o cooperativismo como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a UNESCO reconheceu que sua prática ultrapassa fronteiras, gera impacto positivo nas comunidades e deve ser preservada como parte do patrimônio cultural coletivo da humanidade.
Dar visibilidade a esse marco é fundamental para que mais pessoas entendam que o cooperativismo é, ao mesmo tempo, história viva e esperança de futuro. Um patrimônio que nos conecta, nos fortalece e inspira a construção de um mundo mais justo e solidário.
Elaborado pelo Portal do Cooperativismo Financeiro