José Mendonça de Barros - O Cooperativismo e o Agronegócio

O cooperativismo como força propulsora do agronegócio brasileiro

Palestra do economista José Roberto Mendonça de Barros na B3 destacou o cooperativismo como força propulsora do agronegócio brasileiro

Durante evento realizado na sede da B3 em São Paulo, como parte das comemorações do Ano Internacional das Cooperativas, o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, apresentou uma análise estratégica sobre o atual contexto do agronegócio e o papel fundamental do cooperativismo na economia brasileira.

Com o tema “Contexto, desafios e oportunidades do agronegócio e cooperativismo”, a palestra reforçou que o sucesso do agro no Brasil está diretamente ligado à organização dos produtores por meio de cooperativas modernas, sustentáveis e competitivas.

O cooperativismo como alicerce da produtividade no campo

Segundo Mendonça de Barros, o agronegócio brasileiro tornou-se protagonista global graças à organização coletiva dos produtores. As cooperativas agropecuárias atuam como plataformas que integram serviços financeiros, assistência técnica, acesso a insumos, inovação e canais de comercialização.

Esse modelo possibilita que pequenos e médios produtores alcancem escala, tecnologia e mercados globais. O economista destacou que a força do agro não é fruto apenas da natureza, mas sim da inteligência coletiva expressa nas cooperativas.

“A produtividade e a resiliência do agro brasileiro — que hoje é o maior player global no comércio agrícola — só foram possíveis porque milhares de produtores rurais não estão sozinhos. Estão organizados, amparados, capacitados por suas cooperativas.”

Inovação no agronegócio impulsionada pelas cooperativas

A palestra enfatizou que a inovação no agro brasileiro é endógena, resultado da conexão entre cooperativas, produtores, universidades, centros de pesquisa e instituições como a Embrapa. Essa estrutura permite rápida difusão de novas tecnologias e práticas sustentáveis.

Entre as inovações destacadas, estão:

  • Agricultura de precisão e digitalização da lavoura
  • Biotecnologia e manejo inteligente
  • Modelos de gestão por indicadores
  • Energia renovável e bioeconomia rural

O economista citou como exemplo de sucesso a rápida reação à praga Helicoverpa, controlada em tempo recorde graças à coordenação entre cooperativas e rede de apoio técnico-científica.

Agregação de valor e diferenciação na produção cooperativa

Mendonça de Barros ressaltou o papel das cooperativas na agregação de valor à produção rural, promovendo produtos diferenciados e de alto valor agregado para nichos exigentes, tanto no Brasil quanto no exterior.

Exemplos mencionados:

  • Café especial com certificação de origem
  • Vinhos de altitude e azeites nacionais
  • Mel com florada rastreável e alimentos orgânicos
  • Produção de peixes em cativeiro

Essas iniciativas são impulsionadas por cooperativas que conectam tradição, sustentabilidade e inovação, elevando o padrão de qualidade e abrindo portas para mercados internacionais.

Sustentabilidade e confiança global no modelo cooperativo

O palestrante apontou que as cooperativas têm papel essencial na garantia de rastreabilidade, segurança alimentar e sustentabilidade ambiental. Casos recentes, como o controle sanitário da gripe aviária, mostraram a capacidade do sistema cooperativo em manter o Brasil como fornecedor confiável no cenário internacional.

A imagem global da produção agropecuária brasileira está diretamente relacionada à atuação responsável das cooperativas na adoção de boas práticas e certificações socioambientais.

Mercado de capitais e novas oportunidades de financiamento

Com as limitações fiscais do Estado e o custo elevado do crédito tradicional, Mendonça de Barros defendeu uma aproximação estratégica entre cooperativas e o mercado de capitais. Ele destacou que a B3 representa uma plataforma moderna e segura para atrair recursos de longo prazo.

Para isso, é essencial que as cooperativas mantenham sua identidade, solidez e governança, garantindo transparência, aderência regulatória e segurança jurídica em qualquer movimento de captação externa.

Aspectos macroeconômicos do agronegócio brasileiro

Além do cooperativismo, a palestra trouxe reflexões importantes sobre o agronegócio em geral, incluindo:

Crescimento robusto do PIB agro

O setor agropecuário lidera o crescimento do PIB brasileiro, impulsionado por exportações e ganhos contínuos de produtividade. O Brasil é líder mundial na exportação de soja, milho, carnes, celulose e café.

Competitividade sem subsídios

Ao contrário de países desenvolvidos, o agro brasileiro alcançou sua competitividade sem depender de subsídios governamentais, sendo guiado por eficiência, clima, ciência e gestão empresarial.

Impacto das tarifas dos EUA

Mendonça de Barros comentou o recente “tarifaço” dos EUA, com alíquotas de até 50% sobre café, carne bovina e outros produtos. Apesar disso, a diversificação de mercados e a vantagem competitiva do Brasil devem mitigar os impactos no médio prazo.

Diferenças estruturais com a Argentina

Como contraponto, ele citou a crise econômica da Argentina, atribuindo à ausência de um setor exportador forte e estruturado a instabilidade do país vizinho. No Brasil, o agronegócio tem sido a âncora de equilíbrio macroeconômico.

Cooperativismo é solução coletiva para o futuro

A palestra de José Roberto Mendonça de Barros consolidou a visão de que o Brasil será cada vez mais agro, mas para que esse agro seja justo, moderno, sustentável e competitivo, ele precisa manter sua base cooperativista.

Com capacidade de inovação, governança democrática, inclusão produtiva e impacto local, o cooperativismo agropecuário brasileiro se posiciona como um modelo resiliente e estratégico para o futuro do país.

O Brasil será cada vez mais agro.
Mas para que esse agro seja justo, moderno e competitivo, ele precisa ser — e continuar sendo — cooperativo.


Elaborado pelo Portal do Cooperativismo Financeiro

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