Central Sicredi Sul/Sudeste comemora 45 anos

Central Sicredi Sul/Sudeste comemora 45 anos

Os 45 anos da reorganização das Cooperativas de Crédito no Rio Grande do Sul e da Fundação da Cocecrer-RS, atual Central Sicredi Sul/Sudeste

A Central Sicredi Sul/Sudeste é a mais antiga Central de Cooperativas de Crédito do Brasil

A trajetória do cooperativismo de crédito no Brasil tem raízes profundas e inspiradoras. Um dos marcos fundadores dessa história foi a atuação do Padre Jesuíta Theodor Amstad, que chegou ao Rio Grande do Sul em 1885 com o propósito de apoiar os imigrantes de origem germânica e promover melhores condições de vida para as comunidades locais.

A partir de 1902, impulsionado por esse ideal, Amstad liderou, orientou e inspirou a criação de diversas entidades comunitárias, como escolas, hospitais, asilos e, especialmente, cooperativas de crédito. Cerca de 60 cooperativas foram fundadas entre 1902 e 1960, apenas no Rio Grande do Sul, motivadas por seu legado. Embora muitas tenham sucumbido nas décadas de 1960 e 1970, esse movimento foi essencial para consolidar o cooperativismo como instrumento de transformação social e econômica.

Ao longo desses 120 anos, inúmeras lideranças e entidades foram decisivas para que as instituições financeiras cooperativas chegassem ao estágio atual, oferecendo um portfólio completo de produtos e serviços, mas sem perder o diferencial de atuar próximas das comunidades, promovendo desenvolvimento local, responsabilidade social e formação de novas lideranças.

Os desafios da “era dos não pode” e a resistência cooperativista

Entre os períodos mais desafiadores da história, destaca-se a reforma bancária de 1964 e as restrições legais que se seguiram. Naquele contexto, as cooperativas de crédito enfrentaram uma dura trajetória de dificuldades, agravadas pela falta de reconhecimento institucional até a Assembleia Nacional Constituinte de 1988, quando finalmente passaram a integrar o Sistema Financeiro Nacional.

O impacto foi profundo: das 67 Caixas Rurais do modelo Raiffeisen existentes no RS em 1964, apenas 14 sobreviveram à “era dos não pode”, período marcado por severas limitações operacionais e financeiras. Muitas cooperativas consumiram seu patrimônio líquido até não conseguirem mais absorver os prejuízos, vivendo um momento de autofagia.

O papel decisivo de Mário Kruel Guimarães e a mobilização do setor produtivo

No final dos anos 1970, diante da inflação elevada e da desvalorização cambial, o governo já não conseguia financiar o crédito rural por meio dos bancos públicos. Foi nesse cenário que lideranças do agronegócio gaúcho, estimuladas pelo Ministro da Agricultura Delfim Neto, passaram a cogitar a criação de cooperativas de crédito rural vinculadas às cooperativas de produção agropecuária.

Mário Kruel Guimarães, assessor especial do Ministro e profundo conhecedor do setor, assumiu pessoalmente a missão de viabilizar o projeto, contando com o apoio de Werno Blásio Neumann, representante da Ocergs, e da Fecotrigo, presidida por Jarbas Pires Machado. A estratégia era clara: criar uma cooperativa de crédito em cada cooperativa de produção e, simultaneamente, reorganizar as antigas Caixas Rurais Raiffeisen, formando uma Central de Cooperativas de Crédito Rural.

Kruel sabia que não adiantaria fomentar a criação de novas cooperativas de crédito se não houvesse uma Central para organizar o trabalho e o desenvolvimento das mesmas.

A fundação da Cocecrer-RS e o início de uma nova era

A legislação vigente não estimulava a existência de Centrais, o que levou à transformação da antiga Central das Caixas Rurais do RS (fundada em 1925) em cooperativa singular em 1967. Kruel, porém, articulou junto ao Banco Central a importância de preservar a história das Caixas Raiffeisen que ainda existiam e a necessidade de criar uma nova Central para organizar e desenvolver o sistema.

Assim, em 27 de outubro de 1980, nove cooperativas de crédito rural fundaram a Cocecrer-RS, a Cooperativa Central de Crédito Rural do Rio Grande do Sul Ltda, hoje Central Sicredi Sul/Sudeste. Werno Blásio Neumann, então gerente da Cooperural (atual Sicredi Pioneira RS), foi o primeiro presidente. Em janeiro de 1982, já eram 40 cooperativas filiadas (9 antigas e 31 novas), e em 1985, o número subiu para 60.

Superando obstáculos e construindo um modelo sistêmico

Os desafios iniciais foram muitos: falta de profissionais qualificados, resistência à adoção de padrões sistêmicos, escassez de recursos para despesas básicas e ausência de apoio governamental. Algumas cooperativas cogitaram encerrar atividades, mas o ideal dos fundadores prevaleceu.

Mário Kruel, arquiteto da organização sistêmica, estudou modelos cooperativos internacionais (França, Itália, Alemanha, Áustria, Holanda) e propôs um sistema integrado: cooperativas singulares interligadas às cooperativas de produção, uma única central por estado, uma confederação e um banco cooperativo nacional.

Kruel tinha um diagnóstico perfeito de como seria um modelo bem-sucedido e quais os equívocos que não podiam ser cometidos no Brasil, por isto ele defendia que houvesse um único sistema de crédito cooperativo no país.

Expansão nacional e consolidação do Sicredi

Em 1983, Kruel obteve apoio da OCB, que criou a Comissão de Implantação do Sicredi-Br, liderada por Roberto Rodrigues. O movimento resultou no “Manual de Procedimentos para Implantação do Sistema Integrado de Crédito Rural Cooperativo – Sicredi”, consolidando o modelo integrado e padronizado em nível nacional.

Assim como o Padre Theodor Amstad foi importante na fundação das primeiras cooperativas a partir de 1902, Mário Kruel Guimarães exerceu papel fundamental ao reorganizar as cooperativas remanescentes e liderar a criação de novas cooperativas no RS.

A partir daí, cooperativas singulares e centrais foram constituídas em diversos estados, inspiradas pela Cocecrer-RS. Sob a liderança da Central, marcos importantes foram alcançados: em 1995, foi criado o Banco Cooperativo Sicredi (gestão Ademar Schardong); em 2000, a Confederação Sicredi (gestão Alcenor Pagnussatt). Orlando Borges Müller presidiu a Central a partir de 2000, seguido por Fernando Dall’Agnese em 2017, ambos mantendo o crescimento e os ideais cooperativos.

Presidentes da Central Sicredi Sul/Sudeste:

  • 1980 a 1982: Werno Blásio Neumann
  • 1982 a 1985: Aléxis Setti
  • 1985 e 1986: Mário Kruel Guimarães
  • 1986 a 1996: Ademar Schardong
  • 1996 a 2000: Alcenor Pagnussatt
  • 2000 a 2017: Orlando Borges Müller
  • 2017 a 2022: Fernando Dall’Agnese
  • 2022 até hoje: Márcio Port

O cooperativismo financeiro hoje: força, relevância e futuro

Passados 45 anos, com uma legislação muito mais flexível e avanços conquistados junto ao Banco Central, a Central Sicredi Sul/Sudeste integra o Sicredi como uma das cinco centrais, reunindo 41 cooperativas filiadas, 1.250 agências em quatro estados (RS, SC, MG e ES) e 4,2 milhões de associados.

“Se uma grande pedra se atravessa no caminho e 20 pessoas querem passar, não o conseguirão se um por um a procuram remover individualmente. Mas, se as 20 pessoas se unem e fazem força ao mesmo tempo, sob a orientação de uma delas, conseguirão solidariamente afastar a pedra e abrir o caminho para todos.” — Theodor Amstad

Central Sicredi Sul/Sudeste comemora 45 anos

Uma história centenária como é a do cooperativismo financeiro brasileiro, ou mesmo dos 45 anos da Central Sicredi Sul/Sudeste, é feita por muitas pessoas, sejam líderes reconhecidos ou por pessoas anônimas, e também as entidades parceiras, todos engajados e comprometidos com a causa cooperativista e associativista. JUNTOS, é assim que se construiu o passado, que se desenvolve o presente e se estrutura as bases para a construção de uma sociedade mais próspera no futuro.

Parabéns e obrigado a todos que fizeram e fazem parte desta história, especialmente aos mais de quatro milhões de associados que tornam possível cada conquista.


Márcio Port, é presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste e autor do livro “Cooperativismo Financeiro, uma história com propósito, publicado em 2022, e coautor dos livros “Cooperativismo de Crédito Ontem, Hoje e Amanhã”, publicado em 2012 e “Cooperativismo Financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios“, publicado em 2014.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *