Cooperativas registram mais de 10 mil pontos de atendimento e ultrapassam bancos

Cooperativas registram mais de 10 mil pontos de atendimento e ultrapassam bancos em municípios

O cooperativismo de crédito ampliou sua presença em todo o país. O Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo 2024 mostra 19,2 milhões de cooperados distribuídos em mais de 3.200 municípios. Em 469 cidades, a cooperativa é a única instituição financeira presencial.

Enquanto os bancos tradicionais reduziram agências, o setor cooperativo alcançou 10.220 pontos de atendimento e manteve o contato direto com comunidades historicamente desassistidas. Os ativos totais cresceram 21% em 2024, quase o dobro do sistema financeiro nacional, que avançou 13,1%.

Esses dados mostram como o cooperativismo de crédito se consolidou como uma das principais forças de inclusão financeira no Brasil. O setor está presente em milhares de municípios e se destaca pela capacidade de oferecer crédito acessível, apoiar micro e pequenos empreendedores e fortalecer comunidades locais.

Em conversa realizada pelo Banco Central, os principais dados do Panorama do SNCC 2024 foram apresentados, assim como os avanços e desafios do setor. O encontro contou com a participação de Adalberto Felinto da Cruz Junior, chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias do Banco Central, e Ivens Arua Neves de Miranda, chefe adjunto do mesmo departamento, e destacou como o cooperativismo de crédito cresceu quase o dobro do sistema financeiro convencional, expandiu sua rede de atendimento.

Para Adalberto Felinto, o setor segue em contrafluxo e e demonstra capacidade de ocupar espaços deixados pelo sistema financeiro tradicional. Ele acredita que a força do modelo está na proximidade com os cooperados e na lógica democrática que orienta sua atuação. “Enquanto o sistema financeiro tradicional reduz seus postos de atendimento, o sistema de cooperativas cresce no número de pontos e de municípios em que atua. Cerca de quinhentos municípios brasileiros não contam com instituições bancárias tradicionais, somente cooperativas”, destacou.

Em períodos de crise, o modelo também se mostra resiliente e se destaca como como alternativa sólida e confiável. Durante a pandemia e as enchentes no Rio Grande do Sul, as cooperativas mantiveram crédito ativo e apoio às comunidades. “O cooperado não é cliente, ele é dono. Existe uma relação de proximidade entre a cooperativa de crédito e o cooperado. E, naquele momento de maior necessidade, as cooperativas redobraram sua atenção”, afirmou Felinto.

O crescimento expressivo confirma a força do cooperativismo no cenário nacional. Hoje, se fosse uma única instituição, a rede cooperativa seria a maior em número de pontos de atendimento no Brasil. Isso, para Ivens Miranda, é resultado que mostra compromisso social e eficiência do segmento. “O cooperativismo conseguiu reduzir a concentração bancária e atender um público que antes estava à margem do sistema financeiro tradicional”, defendeu.

Inclusão financeira e impacto regional

O cooperativismo também promove inclusão social e econômica. Hoje, 7,6% da população brasileira é cooperada, mas as diferenças regionais ainda chamam atenção. No Sul, 24,6% da população participa de cooperativas de crédito, enquanto no Nordeste o índice não passa de 1,4%. O setor também avançou na participação feminina, que chegou a 44,9% entre pessoas físicas, e na presença de jovens, que cresceram nas faixas de 0 a 29 anos

Além da bancarização, o modelo impulsiona o desenvolvimento local. Estudos do Sebrae comprovam que municípios com atuação cooperativa são mais ricos e apresentam menores índices de pobreza. “A presença do cooperativismo garante que o recurso gerado permaneça na localidade, promovendo prosperidade e crescimento. Municípios com atuação de cooperativa de crédito tendem a ter desenvolvimento maior e menos pobreza”, destacou Felinto.

O setor se consolidou como principal fonte de crédito para micro, pequenas e médias empresas. Noventa por cento da carteira empresarial das cooperativas atende esse público, além do forte apoio ao crédito rural, que superou R$ 54 bilhões em 2024. “O cooperativismo se destaca em nichos que o sistema bancário tradicional considera de maior risco. Ele tem um impacto muito grande na economia, no incremento do PIB e na geração de empregos”, apontou Miranda.

Esse impacto vai além das finanças. Em várias cidades, as cooperativas mantêm escolas, hospitais e projetos comunitários, fortalecendo a qualidade de vida. Em Minas Gerais, uma cooperativa ajudou a elevar os índices educacionais do município. “As cooperativas atuam como agentes de desenvolvimento, cuidando de dimensões que extrapolam o crédito e chegam à vida das comunidades”, reforçou Felinto.

Governança e desafios da digitalização

Apesar do avanço consistente, o setor enfrenta desafios importantes. Apenas 7% das presidências de cooperativas são ocupadas por mulheres, e a idade média dos dirigentes, de 56 anos, aponta para a necessidade de renovação geracional.

A digitalização representa outro ponto de atenção para as cooperativas. O desafio está em conciliar a essência local do cooperativismo com as demandas de modernização tecnológica. Felinto defende a defende a criação de estratégias que fortaleçam o vínculo entre cooperados e instituições, mesmo em ambientes digitais. Ele ainda acrescenta que a construção de confiança precisa ser prioridade em qualquer iniciativa de transformação digital. “O cooperativismo tem base local, no contato, na presença. A questão é como manter o senso de pertencimento e propósito no ambiente virtual, gerando confiança e compromisso mesmo a milhares de quilômetros de distância”, questionou.

O Banco Central aponta o modelo híbrido como caminho ideal. Para a instituição, unir presença física e soluções digitais é essencial para ampliar a eficiência e preservar a proximidade comunitária.

Contudo, essa transição precisa vir acompanhada de educação financeira e de ações consistentes de capacitação dos dirigentes e conselheiros. Miranda finaliza ressaltando que a renovação de lideranças deve ser pensada em conjunto com políticas de inclusão, diversidade e modernização. “Quando falamos em inclusão digital, precisamos falar também de educação. É ela que evita o superendividamento e fortalece a utilização consciente dos produtos”, defendeu.

Fonte: Banco Central do Brasil com adaptações da MundoCoop (mundocoop.com.br)

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