As cooperativas de crédito nos Estados Unidos formam um dos sistemas cooperativos mais relevantes do mundo. Em 2025, o país contava com cerca de 4.400 credit unions, reunindo mais de 140 milhões de associados.
Juntas, essas instituições administram US$ 2,40 trilhões em ativos, consolidando os EUA como um dos maiores mercados de cooperativismo financeiro do planeta.
Origens e modelo de atuação
A primeira cooperativa de crédito americana surgiu em 1908: a St. Mary’s Bank Credit Union, em Manchester (New Hampshire), fundada por imigrantes francófonos de Quebec com apoio de Alphonse Desjardins.
No início, as credit unions eram do tipo crédito mútuo, atuando dentro de grupos com laços comuns — como profissão, religião ou local de residência. Essa característica moldou a identidade do cooperativismo financeiro americano, aproximando as instituições das necessidades dos membros. A partir dos anos 1980, a flexibilização regulatória acelerou a expansão da base de associados.
Hoje, muitas cooperativas têm campo de atuação comunitário ou regional, ainda preservando vínculos que reforçam a identidade cooperativa e o atendimento próximo.
Identidade de marca e colaboração
Um traço marcante do modelo norte-americano é o não compartilhamento de marca: cada cooperativa possui identidade e rede próprias.
Para ampliar comodidade e capilaridade sem perder autonomia, várias aderem à rede CO-OP Shared Branching, que integra milhares de agências e caixas eletrônicos compartilhados em todo o país.
Regulação e representação
A entidade nacional de representação é a CUNA (Credit Union National Association). A supervisão regulatória cabe à NCUA (National Credit Union Administration), que também administra o NCUSIF (National Credit Union Share Insurance Fund), fundo garantidor obrigatório para todas as cooperativas.
O setor passou por consolidação ao longo das décadas: eram mais de 23 mil cooperativas nos anos 1960, 6.680 em 2016 e pouco mais de 4,4 mil hoje. Apesar da redução no número de instituições, a quantidade de associados cresceu, evidenciando concentração em cooperativas de maior porte.
Participação no mercado
As cooperativas de crédito detêm cerca de 10% dos depósitos e 13% dos empréstimos de varejo nos EUA. A atuação concentra-se no crédito a pessoas físicas — habitação, veículos e consumo —, enquanto os bancos focam mais em grandes empresas. Estados como Califórnia, Virgínia, Texas e Flórida figuram entre os mais relevantes em número de associados e ativos.
A maior cooperativa do mundo também é americana: a Navy Federal Credit Union, sediada na Virgínia, atende militares e suas famílias e soma mais de 14 milhões de associados e cerca de US$ 190 bilhões em ativos. Ainda assim, quase metade das credit unions permanece de pequeno porte (ativos abaixo de US$ 50 milhões).
Avanços regulatórios recentes
- Capital baseado em risco (RBC) e CCULR: desde 2022, a NCUA modernizou as exigências de capital, elevando a robustez prudencial das cooperativas mais complexas.
- CUGMA (2022): o Credit Union Governance Modernization Act permite a expulsão por justa causa de associados por decisão do conselho, reforçando a proteção contra fraudes e condutas abusivas.
- Board Modernization (em debate): propõe reduzir a obrigatoriedade de reuniões mensais do conselho em cooperativas bem geridas, diminuindo custos administrativos.
Tendências atuais
- Digitalização: expansão de mobile banking, onboarding digital, parcerias com fintechs e uso de open banking.
- ESG e sustentabilidade: crescimento do crédito verde (energia limpa, eficiência energética) e políticas de diversidade e inclusão.
- Fusões e aquisições: incorporação de cooperativas menores e aquisição de bancos comerciais por credit unions, com recordes recentes em número e volume de ativos adquiridos.
- Colaboração cooperativa: redes como a CO-OP Shared Branching ampliam alcance nacional sem comprometer a autonomia local.
Com mais de um século de história, as cooperativas de crédito nos Estados Unidos combinam escala e solidez com proximidade comunitária.
Ao equilibrar tradição e inovação, elas seguem ampliando seu papel no sistema financeiro: oferecem crédito justo, promovem inclusão financeira e devolvem prosperidade às comunidades.