Na Itália, o cooperativismo de crédito sempre teve participação expressiva no mercado financeiro. Em determinados períodos, chegou a representar mais de 36% do volume de recursos movimentados no país. Dessa forma, consolidou-se como um dos pilares do sistema bancário. Atualmente, mesmo após reformas e processos de consolidação, continua sendo referência em inclusão financeira, proximidade comunitária e apoio às pequenas e médias empresas (PMEs).
História das cooperativas na Itália
O cooperativismo financeiro italiano tem raízes no século XIX e se desenvolveu em duas frentes principais.
- Banche Popolari: em 1864, Luigi Luzzati fundou em Lodi a primeira Banca Popolare, inspirada no modelo alemão de Schulze-Delitzsch, adaptada ao contexto italiano. Seu foco inicial foi atender artesãos, comerciantes e pequenas empresas urbanas.
- Caixas Rurais: em 1883, Leone Wollemborg criou em Loreggia (Pádua) a primeira cassa rurale. O modelo cresceu rapidamente: em 1897 já havia mais de 900 caixas rurais, muitas ligadas à Igreja Católica.
No século XX, as cooperativas de crédito enfrentaram períodos difíceis. O fascismo e a crise de 1929 provocaram falências e incorporações, reduzindo drasticamente o número de instituições. No pós-guerra, porém, elas se reconstruíram, expandiram presença territorial e recuperaram protagonismo.
Um marco importante foi a Lei Bancária de 1993, que passou a aplicar às cooperativas as mesmas regras dos bancos tradicionais. Além disso, foram criados fundos garantidores específicos, fortalecendo a confiança de poupadores e investidores.
Banche Popolari
As Banche Popolari são a vertente mais antiga do cooperativismo de crédito na Itália. Criadas para democratizar o acesso ao crédito, tiveram como inspirador Luigi Luzzati, que em 1864 fundou em Lodi a primeira Banca Popolare. Seu modelo era voltado a trabalhadores, artesãos e pequenas empresas.
No período entre as duas guerras mundiais, a crise bancária e a política econômica do regime fascista reduziram o número de instituições de cerca de 750 para pouco mais de 300. Apesar disso, os bancos populares mantiveram forte presença regional, sobretudo no norte e no sul do país.
Com o passar das décadas, fusões e aquisições fortaleceram o setor. Em 2013, por exemplo, o Banco Popolare Società Cooperativa reunia 13 instituições, com cerca de 2.000 pontos de atendimento e ativos de mais de US$ 170 bilhões, tornando-se o quinto maior grupo bancário da Itália.
A reforma de 2015 e a conversão em sociedades por ações
O grande marco recente foi a reforma de 2015, que obrigou bancos populares com ativos acima de €8 bilhões a se converterem em società per azioni (S.p.A.). O objetivo era fortalecer governança e capital, em conformidade com as exigências europeias.
Como consequência, dez grandes bancos populares foram transformados em S.p.A., incluindo o Banco Popolare, a Banca Popolare di Milano, a BPER e a Banca Popolare dell’Alto Adige. O caso mais emblemático foi a fusão do Banco Popolare com a Banca Popolare di Milano, criando em 2017 o Banco BPM S.p.A., hoje o terceiro maior banco italiano.
As instituições menores, por sua vez, permaneceram no formato cooperativo. Embora não haja dados oficiais recentes, entende-se que apenas as maiores foram obrigadas a mudar de modelo, enquanto a maioria manteve a identidade mutualista.
O legado das Banche Popolari
Apesar das transformações, as Banche Popolari mantêm vivo o legado de crédito democrático e proximidade comunitária. Mesmo após a conversão das maiores em bancos de capital aberto, o espírito cooperativo resiste em diversas instituições locais.
Bancos de Crédito Cooperativo (BCC)
Os Bancos de Crédito Cooperativo (BCC) têm origem no final do século XIX, nas casse rurali. Em 1883, Leone Wollemborg fundou a primeira em Loreggia (Pádua). Em 1950, foi criada a Federcasse, e em 1963 nasceu o ICCREA, centralizando serviços financeiros e organizacionais.
A legislação de 1993 oficializou a denominação BCC. Posteriormente, entre 1994 e 2004, ocorreram cerca de 200 fusões, reduzindo o número de cooperativas de 642 para 439. Esse movimento fortaleceu capital e governança.
Estrutura organizacional
- Lado associativo: formado por 15 federações regionais ligadas à Federcasse. Responsável por auditoria, controles internos, representação política e desenvolvimento do setor.
- Lado empresarial: coordenado pelo Gruppo ICCREA, que reúne empresas especializadas, como Banco ICCREA, ICCREA BancaImpresa e BCC Vita, oferecendo serviços estratégicos e tecnológicos.
Características cooperativas
- Qualquer residente da área de atuação pode se tornar sócio.
- Para abrir um BCC são necessários pelo menos 200 associados.
- Das sobras, 70% vão para a reserva legal, 3% para fundos de desenvolvimento e até 27% podem ser distribuídos entre os cooperados.
- A distribuição de dividendos é limitada por lei e incide apenas sobre capital integralizado.
Presença territorial
Os BCCs estão presentes em 90% das províncias italianas e atuam em mais de 2.700 municípios. Em 551 localidades, são a única instituição financeira. Além disso, mais de 70% operam em municípios com menos de 15 mil habitantes.
Reorganização recente
A reforma de 2016 determinou que todos os BCCs se integrassem a grupos cooperativos. Atualmente, o sistema está organizado em três blocos:
- Gruppo Bancario Cooperativo Iccrea: com cerca de 115 BCCs e ativos de €175 bilhões.
- Gruppo Cassa Centrale Banca: com 65 BCCs, sediado em Trento.
- Raiffeisen Alto Adige: composto por 39 BCCs no Tirol do Sul.
No total, existem 218 BCCs, com mais de 4.000 agências. Em 776 municípios, o BCC é o único ponto de acesso ao sistema bancário.
A Representação pela Federcasse
A Federcasse representa nacionalmente o sistema cooperativo. O ICCREA tornou-se holding central, enquanto o Cassa Centrale Banca e o Raiffeisen Landesbank Südtirol atuam em regiões específicas. Além disso, o Fondo di Garanzia dei Depositanti del Credito Cooperativo protege depósitos, reforçando a solidez do sistema.
Desempenho Atual e Solidez
Em 2024, os BCCs apresentaram resultados expressivos:
- €199 bilhões em depósitos, representando 8,5% do mercado bancário.
- 20% a 24% de participação no crédito aos setores produtivos.
- Índice CET1 de 26,6%, muito acima da média dos bancos italianos.
Tendências Recentes
O sistema acompanha as principais tendências globais:
- Digitalização: expansão do internet banking, aplicativos e pagamentos digitais.
- Sustentabilidade: crédito voltado a energias renováveis e agricultura sustentável.
- Compromisso comunitário: apoio a projetos sociais, culturais e educacionais.
O cooperativismo de crédito na Itália preserva sua essência histórica ao mesmo tempo em que se moderniza. Das primeiras Banche Popolari e casse rurali até os atuais grupos bancários cooperativos, o setor demonstra resiliência, inovação e compromisso comunitário. Mais de um século depois de sua fundação, os BCCs permanecem fiéis à missão de serem bancos da comunidade, unindo tradição e modernidade.
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