TOP COOPERS: O cooperativismo como agente de transformação social e de equidade financeira

Sistema cooperativo financeiro comemora a evolução do setor em 2019 e se prepara para seguir em expansão aliando novas tecnologias aos seculares princípios que norteiam o cooperativismo.

Dando continuidade a série especial, e exclusiva, de entrevistas com os presidentes das principais cooperativas de crédito do Brasil, o TOP COOPERS – Cooperativas de Crédito, a MundoCoop conversou nessa semana com o diretor-presidente do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) e representante do Sicoob, Marco Aurélio Borges de Almada Abreu.

Uma das maiores instituições financeiras cooperativas do Brasil, o Sicoob reúne mais 4,5 milhões de associados. Com 435 cooperativas singulares, está presente em todos os estados, e em pelo menos 270 municípios é a única instituição financeira.

Marco Aurélio considera que as cooperativas de crédito têm importantes desafios a enfrentar como: a competição no setor financeiro, intensificada pela entrada de novas organizações; atender os objetivos da Agenda BC#, do Banco Central, o que exigiria ampliar a eficiência, modernizar processos e abordagens combinando digital e atendimento personalizado; e investir em tecnologia como fonte de soluções ao cooperativismo de crédito.

E ela, a tecnologia, tem se mostrado mesmo uma grande aliada, figurando cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. A pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que analisa a evolução dos investimentos e tendências em tecnologias utilizadas por instituições financeiras, aponta, por exemplo, que seis em cada dez transações bancárias já são realizadas por meio de aplicativo de celular ou internet banking.

À MundoCoop, o presidente do Bancoob analisa ainda a evolução do setor neste ano, e indica oportunidades e caminhos que o cooperativismo financeiro tem a percorrer.

Confira a entrevista na íntegra!

Que avaliação realiza sobre o setor de cooperativas de crédito em 2019, destacadamente a partir das alterações político-econômicas que estamos vivendo desde o início do ano?

Por mais uma vez o cooperativismo de crédito teve destaque de crescimento. Apesar das incertezas vigentes, o setor mostrou solidez e capacidade de expansão: a evolução do saldo de crédito do Sicoob foi de 11,02% (jan-set/2019) ante 3,19% (jan-set/2019) do Sistema Financeiro Nacional. A consolidação do atual nível da taxa básica de juros apresenta novos desafios às cooperativas, mas que têm sido enfrentados por meio de gestão capacitada, reequilíbrio das linhas de negócios, melhora na eficiência e priorização da estratégia comercial. A evolução das reformas estruturantes foi um dos fatores que aumentou a confiança do setor. Outro destaque foi o lançamento da agenda do Banco Central BC#, que apoia o segmento com ações que visam fomentar seu desenvolvimento em três vertentes estratégicas: fomento e atividade e negócios, aprimoramento da organização sistêmica e aumento da eficiência e aperfeiçoamento e gestão de governança. Ainda na Agenda, o BC aponta o cooperativismo como um dos principais vetores para atingimento de suas metas ao mesmo tempo em que seu presidente lança o desafio de crescimento ao setor. Essas iniciativas demonstram o reconhecimento da autarquia de que o cooperativismo financeiro é um agente transformador e gerador de justiça financeira.

O que podemos esperar do setor de cooperativas de crédito, e em particular do Bancoob e cooperativas Sicoob para o próximo ano? Quais os desafios a vencer?

O primeiro desafio é responder ao cenário competitivo do setor financeiro, recrudescido por novos entrantes como organizações não-financeiras e outras nativas digitais. Outro importante desafio são os objetivos previstos na agenda BC#. Não há dúvidas de que o setor trabalhará arduamente para atingi-los. Contudo, o ritmo atual não é suficiente e serão necessários saltos de eficiência para que isso aconteça. Logo, é imprescindível a ação coordenada dos sistemas cooperativos evitando sobreposições e identificando lacunas de atendimento. Torna-se também necessária a modernização de processos e abordagens, fazendo com que o investimento para ganho de escala seja minimizado. Combinar a eficiência do digital ao atendimento personalizado atual é a chave para o sucesso.

É possível apontar oportunidades abertas para o setor?

O cooperativismo financeiro brasileiro ainda responde por uma pequena parcela de mercado no Brasil quando comparamos com países de economias desenvolvidas pelo mundo. Esse comparativo ilustra a janela de oportunidade existente. O cooperativismo evoluiu seu portfólio e hoje disponibiliza produtos e serviços financeiros com a mesma diversidade que os grandes bancos. Quando a cooperativa formata sua oferta a partir de bons preços com a qualidade e os benefícios naturais do cooperativismo de crédito, a fidelização do associado é alcançada. Outra oportunidade advém do barateamento no acesso a tecnologias existentes, favorecendo aqueles com menos recursos a concorrerem em igualdade de forças. Portanto, é preciso buscar o uso eficiente dos recursos tecnológicos existentes ao ponto de que a escolha dos clientes seja pautada em posicionamento estratégico dos produtos e não por características provenientes do porte da instituição ofertante.

Já convivemos com inteligência artificial, internet das coisas… De que maneira as transformações digitais contribuem e/ou desafiam o cooperativismo de crédito?

A transformação digital atual gera oportunidades para as cooperativas financeiras como comentado. O desafio é saber utilizar essas ferramentas de forma que gere valor ao associado. Esse é um jogo para todo o mercado. É isso que permite que fintechs recém-criadas tornem-se concorrentes de produtos originários de grandes empresas tradicionais. Nesse novo cenário, a tecnologia é a oportunidade; a cultura interna, orientadora de como utilizá-la, é o desafio. As novas tecnologias já fazem parte das soluções desenvolvidas pelo Sicoob com resultados iniciais satisfatórios.

Apesar de grande parte das operações diárias serem feitas a distância, de forma digital, as cooperativas de crédito têm expandido suas agências físicas, não só nos pequenos, mas também em grandes municípios, na contramão dos bancos. Essa tendência deve permanecer? O que a instituição planeja nesse sentido para os próximos anos?

Os bancos vêm de um longo processo de expansão em que não havia um ambiente digital tão maduro quanto o que temos atualmente. Portanto, neste novo cenário, precisaram readequar seu modelo de abrangência buscando o equilíbrio entre digital e físico. O cooperativismo está no meio do seu próprio processo de expansão. Então, ainda há espaço para implantação de pontos de atendimento físicos até que seja atingido esse equilíbrio. Na medida em que o cooperativismo cresce, o ponto de equilíbrio comporta mais espaços físicos e, por isso, devemos ver abrirem muitas agências ainda por um bom tempo.

Por Nara Chiquetti – Redação MundoCoop

Fonte: mundocoop.com.br

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