O cooperativismo como instrumento de desenvolvimento econômico

Onde tem cooperativismo, tem desenvolvimento

As cooperativas de crédito são, comprovadamente, impulsionadoras do empreendedorismo, poupança e investimentos locais, proporcionando riqueza às comunidades onde se instalam e auxiliando o desenvolvimento do País

A cidade de Nova Petrópolis, na serra gaúcha, tem aproximadamente 21 mil habitantes e cerca de 470 empresas. Dentre elas, a Lupa Transportes, que surgiu há 12 anos. Desde o início do empreendimento, o proprietário Luiz Eduardo Bloedorn contou com o apoio cooperativo. Seu primeiro caminhão foi comprado com financiamento da Sicredi Pioneira RS. Hoje, a empresa dispõe de sete veículos e emprega dez pessoas. Bloedorn credita à parceria cooperativa sua evolução como empresário.

Para ele, a forma de atendimento e disposição dos funcionários em responder prontamente faz toda a diferença na relação entre empreendedor e cooperativa de crédito. “A gente nunca fica desamparado, estão focados em ajudar as pequenas empresas. O que o associado precisar, mesmo que seja no final de semana, não fica sem resposta. Já tive conta em bancos, mas hoje realizo operações praticamente só com a cooperativa”, afirma.

Bloedorn aponta que o crédito cooperativo tem auxiliado a empresa inclusive no enfrentamento das consequências da pandemia de coronavírus. Além de suspender os investimentos programados para este ano, ele recorreu, mais uma vez, ao crédito cooperativo. “Eu tinha 12 funcionários, dispensei dois e fui à Sicredi pegar um capital de giro para não pararmos. Agora, mais que nunca vamos precisar desse serviço, e a resposta deles para nós associados é imediata”.

“É graças à cooperativa que hoje a gente existe e emprega, quando nenhum banco deu apoio, ela me abriu as portas e pude começar a empresa. Por isso, sigo, com meu pessoal, o mesmo lema: juntos vamos passar a crise, conquistar novos clientes, fazer investimentos; nunca esquecendo aquele que te de deu o braço lá atrás”, declara. Bloedorn revela ainda que, como empresa associada, sente auxiliar indiretamente sua comunidade. “Tem ainda, por exemplo, o fundo social, que apoia instituições e ações na comunidade. Para nós que somos cidade pequena, isso faz muita diferença”, diz.

Especialista em pequenos negócios, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae-RS) vê no cooperativismo de crédito proximidades com os objetivos da instituição, já que ambos estimulam o desenvolvimento local atendendo pequenos empreendimentos. Augusto Martinenco, gerente de Inovação e Serviços Financeiros do Sebrae-RS destaca que, pela proximidade com o associado, a instituição pode oferecer soluções mais adequadas. “A cooperativa de crédito, em geral, tem capacidade de adaptar seus produtos a necessidades dos associados. Eventualmente, por exemplo, uma linha de crédito com carência melhor ajustada ao projeto que está sendo analisado; um prazo de pagamento ou taxa de juro mais coerente com a geração de caixa da empresa ou pessoa física. Parece-me que o cooperativismo, de fato, consegue olhar essas necessidades locais com uma lupa bem ajustada”.

Nos últimos anos, os bancos vêm diminuindo operações junto a pequenos negócios, ao passo que as instituições financeiras cooperativas aumentam de forma significativa essa atuação. “O interior já é do cooperativismo, o desafio está em fazer grandes cidades também olharem o cooperativismo financeiro com a mesma dinâmica; e esse é um dos principais conceitos que a gente tem trabalhado: instituições financeiras com sensibilidade local conseguem atender melhor a necessidade dos pequenos negócios”, comenta Martinenco.

Nesse momento de enfrentamento à crise causada pela pandemia de coronavírus, as cooperativas de crédito podem ser fundamentais. “Uma das coisas mais ricas que o cooperativismo pode proporcionar é o recurso do associado permanecer na comunidade, apoiando outras empresas e pessoas naquele ambiente”, aponta Martinenco. Ele acredita que essas instituições, mesmo em meio à crise, devem seguir visualizando oportunidades de crescimento e auxiliando famílias e pequenos negócios, que neste momento carecem de crédito para garantir liquidez.

Avanços econômicos comprovados em números

Os efeitos positivos na economia brasileira, com geração riqueza às comunidades onde atua, e consequentemente ao País, estão comprovados pela pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em parceria com Sicredi, divulgada no início do ano. Segundo o estudo, o cooperativismo de crédito gera um aumento de 5,6% no PIB per capita médio dos municípios que contam com essas instituições. Ao disponibilizar recursos, elas estimulam atividades econômicas, colaborando na criação ou manutenção de empregos formais (aumento de 6,2%) e o empreendedorismo (15,7% mais empresas). A estimativa é que a cada R$ 35,8 mil concedidos em crédito pelas cooperativas, um novo posto de trabalho é criado. Cada R$ 1 em crédito movimenta R$ 2,45 em renda na economia.

Os recursos do cooperativismo se destinam principalmente ao crédito rural/agroindustrial (pessoa física) e capital de giro a micro, pequenas e médias empresas, a taxas de juros inferiores e menos restrições em relação ao nível de risco admitido para a concessão das operações em relação às demais instituições (apesar disso, têm menor percentual de ativos problemáticos). Assim, possibilitam o acesso a serviços financeiros a pessoas e empresas que não teriam condições de crédito em bancos, como Bloedorn, ao iniciar sua empresa.

Para Manfred Dasenbrock, presidente da SicrediPar, a pesquisa apenas comprova o que as cooperativas já sentiam na prática: ao conceder crédito e estimular bons projetos, multiplicam talentos e geram riqueza às comunidades onde atuam. Mas, o cooperativismo de crédito estimula não só a economia; proporciona também educação financeira, protagonismo, democracia e solidariedade. “Quando o associado recebe um programa de formação da cooperativa, ele leva o conhecimento também para sua rede de relações, e isso gera benefícios coletivos, melhora seu empreendimento, suas ações como cidadão”.

Dasenbrock acredita que a recessão que atravessamos só vai ser vencida com união. Para isso, cada agência busca ouvir seus associados, no intuito de encontrar juntos soluções que auxiliem a comunidade. “Já tínhamos 12 milhões de desempregados, com a crise, vai recrudescer, e a recuperação ocorrerá por meio do crédito, que é alavancador. A chave é cooperar e poupar. Sempre alguém tem excedente e alguém precisa, é aí que se tem o efeito da alavancagem, pois juntos fazemos mais. Uma certeza que temos é de que nada será como antes, o novo normal está por vir. E as soluções colaborativas deverão prevalecer para a reconstrução do mundo”.


Por Nara Chiquetti – Matéria publicada na Revista MundoCoop, edição 93

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