A força do coletivo para a retomada da economia, por Solon Stapassola Stahl

Em 2004 Raj Sisodia escreveu o livro “Empresas Humanizadas” e lançou os fundamentos dos Negócios Conscientes, que hoje está presente em mais de 20 países. Nesta obra Sisodia falava da importância de haver um alinhamento estratégico entre todas as partes interessadas de uma empresa, chamados de stakeholders: acionistas, clientes, fornecedores, governos e sociedade, incluindo aí o meio ambiente. A ideia central visa que todos tenham lucro, em nome da sustentabilidade de todo um ecossistema econômico. Esses conceitos já têm quase 15 anos e nunca foram tão atuais como nestes tempos de pandemia que estamos vivendo.

Além dos impactos na saúde das pessoas, a pandemia também virou uma crise financeira sem precedentes por conta da política de distanciamento social que decretou fechamento de comércios, indústrias e serviços. As velhas fórmulas e os métodos de sempre não nos tirarão deste cenário inédito. Pelo menos não na velocidade que precisamos. É preciso pensar diferente, para termos resultados diferentes, e mais rápidos.

Mas engana-se que para ser mais rápido devemos ir sozinhos. Somos melhores juntos, ensina Shawn Achor no livro “Grande potencial”, e continua ensinando que podemos ter muito mais sucesso se juntarmos o potencial de todas pessoas, organizações e entidades de uma comunidade. Usando estes ensinamentos e utilizando os conceitos de Sisodia sobre Negócios Conscientes, podemos afirmar sem medo, que boa parte da solução é olhar para este cenário como um ecossistema onde um depende do outro, e onde a colaboração será fator preponderante para a retomada mais rápida possível da atividade econômica.

Competir é saudável pois nos exige ser melhor todo o dia impulsionando a inovação. Mas coopetir pode ser mais inteligente, pois continua exigindo o nosso melhor, mas também podemos somar o melhor das outras partes que compõem o ecossistema criando uma força sinérgica. É a soma das potências individuais em prol de uma causa única: a recuperação das economias locais.

Isto exige um novo mindset, onde o lucro é importante, mas não é o único resultado possível. Temos que transcender a mentalidade de Soma Zero, onde pra eu ter mais lucro o outro precisa ter prejuízo, pois este raciocínio não sustenta o ecossistema no longo prazo. Neste novo olhar os clientes constroem as soluções junto com a gente ampliando sua fidelidade; os colaboradores são movidos por um propósito reduzindo turn over; fornecedores comungam de nossos objetivos gerando confiança nas relações; governos são vistos como parceiros necessários para prover infraestrutura e ambiente de negócios saudável; os acionistas tem visão de longo prazo sem pressionar a gestão para tomar decisões que só pensem no lucro imediato; e, a sociedade, incluindo o meio ambiente, se tornam nossa responsabilidade também, e por conta disto, influenciam todas nossas decisões. Já os concorrentes são vistos como parceiros no compartilhamento de atividades meio reduzindo custos, acelerando inovação. Aqui importante citar o belo exemplo do Instituto Hélice de inovação de Caxias do Sul.

Utopia? Não. Já é praticado por inúmeras organizações de sucesso como 3M, Adobe, Amazon, Chubb, Colgate, FedEx, Google, Harley-Davidson, IBM, Soutwest Airlines, Starbucks, Walt Disney e Whole Foods, somente pra citar algumas mais famosas. As cooperativas de crédito também são um ótimo exemplo de Negócios Conscientes, pois seus valores de colaboração, transparência e gestão compartilhada, combinados com seus princípios basilares, determinam: o cliente, o funcionário e o fornecedor são donos da cooperativa; os governos municipais são vistos como parceiros em políticas sociais; e, as comunidades são a razão de existir das cooperativas, influenciando por exemplo, o Propósito da Sicredi Pioneira: “Juntos construímos comunidades melhores”. Além dos atores citados, as cooperativas incluem no seu rol de stakeholders as entidades organizadas, vistas como parceiras no objetivo de melhorar a vida das comunidades. Em Caxias temos vários exemplos de entidade parceiras como CDL, CIC, Simecs, Microempa, Trino Polo. Aliás, as entidades têm papel central na organização das empresas em torno da causa comum que é recuperar nossa economia, via colaboração, cocriaçao e inovação.

Este tipo de Negócio Consciente não resolverá a crise imediatamente, mas a crise pode nos motivar a repensar nosso modelo de negócio para que possamos enfrentar a próxima crise de mais fortes: juntos. E fica um recado para as lideranças: as empresas têm a oportunidade de se tornarem a influência positiva mais importante da sociedade. Vamos expandir nossa consciência?

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Por Solon Stapassola Stahl, Diretor Executivo da Sicredi Pioneira RS

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