MundoCoop: Presidente da ACI fala, com exclusividade, sobre a liderança cooperativa nas transformações globais

A Aliança Cooperativa Internacional (ACI) une, representa e atende cooperativas em todo o mundo, estimadas em cerca de 3 milhões em todo planeta, proporcionando uma voz global de conhecimento, experiência e ação coordenada para e sobre as cooperativas.

Esse ano a ACI completou 125 anos de contribuição, ações e iniciativas que tem impulsionado a expansão e consolidação do movimento cooperativista. Mas quais os próximos passos do cooperativismo? Em meio a mudanças mundiais, o que esperar daqui para frente?

Para falar sobre questões atuais que vem crescendo no meio cooperativo, tendências e necessidades da atualidade e guiar o futuro das cooperativas, a MundoCoop, conversou com exclusividade com o presidente a frente da entedidade, Ariel Guarco.

Confira!

Quais são os novos desafios globais? Como o cooperativismo, por seu amplo papel na sociedade, pode contribuir para resolvê-los?

Sem dúvida um dos principais desafios que a humanidade atravessa hoje é a saúde. A pandemia ainda está presente em praticamente todo o mundo, com mais de 22 milhões de infectados e mais de 800 mil mortes. Esses números continuarão crescendo e a principal responsabilidade das sociedades é reduzi-los ao mínimo possível. Nesse sentido, o cooperativismo materializou aquele slogan que o Papa Francisco pronunciou há algumas semanas: “Ninguém se salva sozinho”.

Na Aliança Cooperativa Internacional estamos coletando as ações que nossos membros estão realizando em todo o planeta. Em primeiro lugar, as cooperativas que se dedicam à prestação de serviços de saúde, que estão a fazer um trabalho admirável, cuidando e atendendo às pessoas afetadas, mas também em um outro nível fundamental como a informação. As nossas cooperativas estão a informar claramente em um contexto de forte circulação de mensagens que colocam em risco a saúde das pessoas.

Em outros ramos, como a produção de alimentos ou outros bens básicos para a vida das famílias, o refinanciamento do consumo e da produção, o desenvolvimento de tecnologias que permitam a conectividade, a continuidade na prestação de serviços públicos essenciais, entre outros, as cooperativas também estão fazendo um grande esforço e provando que são o modelo de negócio que responde melhor e mais rapidamente às emergências.

“Acredito que as cooperativas estão preparadas para liderar um novo caminho de desenvolvimento em escala global”

Como a ACI vê o desempenho das cooperativas hoje? As cooperativas devem liderar a transformação da economia?

Essas ações que as cooperativas estão realizando na pandemia, mesmo tendo sido afetadas sanitária e economicamente como quase todas as empresas, as posicionam mais uma vez como empresas resilientes, que estão próximas de suas comunidades e podem liderar o caminho para o desenvolvimento sustentável .

Esta pandemia revelou, por um lado, a crescente ameaça iminente sobre nós como humanidade, se não mudarmos a forma como nos relacionamos com a Natureza. O atual modo de produção e consumo linear e desenfreado levará a mais desastres ambientais e terá consequências mais negativas para a saúde humana. Por outro lado, a saúde não pode ser uma mercadoria. Hoje o setor solidário, junto com os estados, mas mesmo com o setor privado com fins lucrativos na área da medicina, mostra que é necessário apelar aos órgãos de cooperação para atender à emergência.

Mais uma vez, ninguém se salva sozinho, e se me permitem citar o Francisco mais uma vez, não sairemos desta pandemia da mesma forma, sairemos melhor ou pior. Acredito que as cooperativas estão preparadas para liderar um novo caminho de desenvolvimento em escala global que contribua para o crescimento econômico sem descuidar do planeta e sem deixar ninguém para trás.

Na última década, o debate sobre a diversidade cresceu no Brasil e um dos aspectos que o tem impulsionado é o ambiente corporativo. Como o cooperativismo tem planejado adotar essa inclusão? Quais são os desafios que ainda precisam ser enfrentados?

As cooperativas são empresas abertas, democráticas e transparentes. A própria definição aprovada pelo ACI, e que faz parte da Identidade Cooperativa adotada há 25 anos, indica que se trata de associações autônomas de pessoas que, voluntariamente, escolhem esse caminho para satisfazer suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais. Isso abre as portas para toda a diversidade da raça humana, que está presente em todas as nossas sociedades.

Na verdade, este é talvez o único movimento integrado de empresas que se desenvolveu por mais de um século em todas as latitudes, em sociedades mais abertas ou mais fechadas, com regimes políticos mais democráticos ou mais autoritários, sob modelos econômicos nacionais mais liberais ou mais estatistas, em contextos socioculturais mais conservadores ou mais promotores da diversidade.

No âmbito institucional, na ACI priorizamos o papel do Comitê de Igualdade de Gênero e promovemos fortemente a participação equitativa das mulheres nos órgãos de decisão das cooperativas, mas também entendemos que as cooperativas são por excelência o modelo de negócio que melhor abriga e inclui toda a diversidade de gêneros, etnias e culturas que existe em todos os cantos do mundo.

Nos dias atuais, onde a valorização dos princípios é cada vez mais acentuada, o cooperativismo tem se mostrado mais uma vez uma alternativa poderosa para promover o desenvolvimento da sociedade. No entanto, o que está faltando neste movimento para expandir ainda mais seu alcance? Como se comunicar mais e melhor com a sociedade?

Acredito que seja precisamente necessário reforçar aquela mensagem de que somos empresas com valores e princípios, capazes ao mesmo tempo de ser economicamente eficientes e socialmente responsáveis. A identidade cooperativa não pode ser uma âncora que nos mantenha estáticos. Tem que ser o motor que nos impulsiona a nos posicionarmos mesmo em mercados competitivos, porque temos capacidade para o fazer, porque somos inovadores, porque fazemos o que muitos manuais de negócio dizem, mas poucos fazem, que é associar e investir na localidade onde estamos presentes, apostar na educação e na pesquisa e dar protagonismo às novas gerações para que se insiram no nosso sistema e possam ser realizadas pessoal e profissionalmente.

Hoje, mais do que nunca, devemos promover o diálogo com os nossos associados, antes de mais nada, e incentivá-los a participar ativamente desse modelo capaz de melhorar sua qualidade de vida. E, por outro lado, consolidar a integração a nível nacional, regional e global para influenciar os poderes público e privado e fazer com que o setor solidário da economia seja um dos pilares da recuperação pós-pandemia.

“Mais do que nunca, devemos promover o diálogo com os nossos associados e incentivá-los a participar ativamente”

É hora de reforçar o princípio da intercooperação para fortalecer o cooperativismo?

Claramente, o sexto princípio de cooperação nos diz que devemos cooperar constantemente por meio de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais. Por isso é muito importante fortalecer a participação de cada uma de nossas organizações nos diversos níveis de integração.

A partir da ACI, estamos fortalecendo o papel das regiões e setores que compõem a estrutura global do movimento cooperativo. Mas é preciso que a força venha de baixo, de cada território, que é onde as cooperativas estão enraizadas, levantando as inquietudes de seus associados, dando debates e chegando aos consensos necessários, dando os debates e alcançando os consensos necessários, dando lugar ao surgimento de novos líderes que são os que devem atender a esta premissa da intercooperação, para que toda essa força não se dilua, mas se fortaleça na integração.

Qual é a visão do ICA para o cooperativismo nos próximos anos?

Apesar do confinamento, a Diretoria e os funcionários da ACI em nível global continuam trabalhando remotamente nestes meses e estou até participando de muitas atividades por videoconferência, que nos permitem compartilhar experiências e levantar visões comuns para um cenário pós-pandemia. Mesmo nesta modalidade, a nossa ideia continua sendo reforçar a incidência nos territórios através do reforço da identidade cooperativa, principalmente neste momento em que a Declaração de Identidade aprovada pela ACI completa 25 anos, que por sua vez está a comemorar 125 anos.

Para a próxima década, aprovamos um plano estratégico que tem como precedente o plano traçado até 2020, onde destacamos a necessidade de fortalecer o cooperativismo em escala global como empresas com foco na pessoa e no meio ambiente.

Por Fernanda Ricardi e Jady Peroni – Redação MundoCoop

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