Esta história começa há quase 200 anos. Em 1844, um grupo de 28 trabalhadores se viu diante de um desafio de sobrevivência. Eram 27 homens e uma mulher que com seus rendimentos não conseguiam comprar o básico para se manter nos mercadinhos de Rochdale-Manchester, no interior da Inglaterra. O que eles fizeram? Uniram-se para comprar alimentos em grande quantidade, logo a preços mais baixos como se eles fossem um atacado, e passaram a usufruir igualitariamente dos resultados. Nascia ali a Sociedade dos Probos de Rochdale, a primeira cooperativa moderna. A ideia prosperou tanto que quatro anos depois já contava com 140 associados e 12 anos mais tarde chegou a 3.450 sócios.
No Brasil, o cooperativismo nasceu oficialmente em 1889, em Minas Gerais, com a fundação da Cooperativa dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, voltada ao consumo de produtos agrícolas. E a primeira cooperativa de crédito do país remonta a 1902, quando o padre suíço Theodor Amstad fundou em Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul, a Sicredi Pioneira para facilitar as operações financeiras no município que não contava então com nenhum banco. Curiosidade: a cooperativa opera até hoje, decorrido mais de um século.
Hoje 50 milhões de brasileiros – mais ou menos 25% da nossa população – retiram sustento ou vivem de alguma maneira ligados ao cooperativismo, considerando o número de cooperados, familiares, colaboradores e fornecedores. De acordo com o Sistema OCB, a Organização das Cooperativas Brasileiras, as 6,8 mil cooperativas do país geram 425 mil empregos e somam R$ 351,4 bilhões em ativos. O cooperativismo é uma força motriz da nossa atividade econômica, sem a qual seria impossível pensar em itens básicos do nosso dia a dia como os alimentos que chegam à nossa mesa, muitos serviços de saúde e até os táxis que pegamos nos centros urbanos.
E como você já percebeu lendo até aqui, o dono da cooperativa é o cooperado. Pode até parecer utópico, mas esse é um caso real, concreto e bem-sucedido de propriedade coletiva: o patrimônio pertence a um grupo de pessoas que se unem em torno de interesses comuns e, como em qualquer coletividade, cada integrante tem direitos e também obrigações. Os cooperados se reúnem nas assembleias, que podem ser ordinárias ou extraordinárias de acordo com a pauta e a decisão a ser tomada.
E há outra vantagem: a riqueza gerada pelas cooperativas circula na própria economia do bairro, cidade ou região, fomentando recursos e gerando empregos no mesmo lugar onde o cooperado mora ou trabalha. Gosto de ilustrar isso com um exemplo observável no dia a dia em minha área, o cooperativismo de crédito. Você já viu ou conversou com o dono de um grande banco? Eu nunca tive a oportunidade. Em contrapartida, nas cooperativas a regra é todos os dias você interagir com os cooperados, pois outra característica dessa forma de organização é a forte atuação hiperlocal, e não raro tem acesso aos dirigentes das cooperativas – que nada mais são do que cooperados investidos de um mandato e eleitos nas assembleias.
Em resumo, no cooperativismo você é o dono.