Concentração bancária cai em 2020 com menor participação de bancos públicos

A participação dos cinco maiores bancos do país no mercado de crédito caiu em 2020, mas o grupo ainda concentra 68,5% do mercado de crédito brasileiro, segundo o Relatório de Economia Bancária de 2020 (link) divulgado pelo BC (Banco Central) nesta segunda-feira (7). O percentual leva em conta também o setor não bancário, que engloba fintechs de crédito e cooperativas, por exemplo.

Quando se considera apenas o setor bancário, as grandes instituições possuem 79,2% das operações, queda de 1,5 ponto em relação a 2019. Apenas entre bancos com carteiras comerciais, a concentração dos cinco maiores chega a 81,8%, redução de 1,9 ponto. Os cinco maiores bancos do país são Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Santander e Itaú.

De acordo com o documento, os bancos públicos perderam participação no crédito. O Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) reduziram a participação de 48,9% em 2018 para 42,8% em 2020.

Segundo o BC, uma parte da fatia foi distribuída entre instituições menores e outra entre os maiores bancos privados.

“Não conseguimos desagregar para ver quanto disso é efeito dos novos entrantes [fintechs e bancos digitais] mas o que está acontecendo é uma diminuição da concentração e a gente vê a entrada de novos atores”, ressaltou o diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, João Manoel Pinho de Mello.

“Pouco mais da metade da diminuição de concentração é a realocação de bancos muito grandes públicos para bancos grandes privados, o que é positivo porque também é desconcentração, e 40% seria de atores que não são os cinco maiores ganhando espaço”, detalhou o diretor.

“Tal fato denota que a redução da participação dos principais bancos públicos se deu, em parte, vis-à-vis o aumento da participação de instituições que não se encontram entre as cinco maiores instituições, o que contribui para o incremento das condições concorrenciais quando se considera exclusivamente os índices de concentração”, disse o texto.

“Especificamente em relação ao segmento de crédito rural, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, a concentração vem declinando, refletindo um aumento de participação dos demais bancos comerciais e múltiplos e das cooperativas de crédito. Em contraste, no segmento de crédito imobiliário, a CEF manteve a sua participação no patamar de 70%”, completou.

Cooperativas de Crédito

As cooperativas de crédito apresentaram crescimento de 33,4% da carteira de crédito em 2020, considerando-se as modalidades e público com os quais operam de forma relevante, mantendo a tendência de crescimento acima do restante do SFN nos últimos cinco anos. O Bacen identificou como possíveis explicações:

    1. aumento da base de associados;
    2. crescimento das operações de crédito dos associados já existentes;
    3. aumento das operações em modalidades específicas, como crédito rural e capital de giro para micro e pequenas empresas;
    4. expressiva participação de mercado em regiões com menor concorrência, em especial as cidades até 50 mil habitantes; e
    5. alterações em seu modelo de negócios.

Segundo o Relatório: “Embora o cooperativismo ainda constitua uma parcela relativamente pequena do SFN, cujos ativos se concentram num pequeno número de instituições bancárias, o crescimento contínuo do SNCC sugere que, no futuro, as cooperativas poderão ocupar lugar de destaque, a exemplo de outros países como França, Canadá e Portugal.”

Veja a análise completa envolvendo as cooperativas de crédito clicando aqui

A concentração também caiu no saldo depositado em contas-correntes por clientes. Em 2020, os cinco maiores bancos tinham 67% dos depósitos, 2,8 ponto percentual a menos que no ano anterior. Nos últimos anos, o BC tem adotado medidas para diminuir a concentração no sistema financeiro e aumentar a competição.

O relatório cita ações como open banking, que facilita o compartilhamento de informações bancárias de clientes (com sua autorização expressa) entre instituições, o SandBox regulatório, onde empresas de inovação podem fazer testes com clientes reais, e mudanças no mercado de recebíveis que reduzem a trava bancária, que entra em vigor nesta segunda.

O relatório mostra que embora o crédito tenha encolhido no início da pandemia de Covid-19, os programas emergenciais do governo para empresas impulsionaram o mercado no segundo semestre.

“O crédito para as famílias recuou acentuadamente no segundo bimestre de 2020, em linha com a queda no consumo, principalmente nas modalidades de cartão de crédito à vista e financiamento de veículos. Na sequência, ocorreu a retomada na contratação dessas modalidades ao longo do ano”, afirmou o documento.

Além disso, houve alta nas contratações de financiamento imobiliário com a queda da taxa básica de juros (Selic). “A taxa média de juros das novas operações de crédito diminuiu ao longo de 2020, refletindo os efeitos da redução na taxa básica de juros e das medidas anticíclicas de suporte às operações de crédito, que deram liquidez aos bancos e possibilitaram a manutenção da inadimplência em níveis baixos”, destacou o estudo.

A carteira de crédito do sistema financeiro encerrou 2020 em R$ 4 trilhões, R$ 600 bilhões a mais que no fim de 2019, o equivalente a um aumento de 15,6%. No período, o estoque de crédito às empresas aumentou 21,8% e para as famílias, 11,2%.

Segundo a pesquisa, a queda foi generalizada entre os diversos segmentos do sistema financeiro. Os bancos lucraram R$ 88,6 bilhões em 2020, contra R$ 119,7 bilhões em 2019, diferença de R$ 31,1 bilhões. “As despesas com provisões [reserva para cobrir calotes] aumentaram, as margens ficaram pressionadas e as receitas com serviços sofreram com a queda da atividade econômica”, justificou o relatório.

O BC prevê crescimento da rentabilidade ao longo deste ano. “A redução do número de agências e de funcionários, em paralelo ao aumento do uso de canais de atendimento digitais, tende a trazer ganhos de eficiência operacional para o sistema no médio prazo”, destacou o texto

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Com informações do Jornal de Brasília e do Relatório de Economia Bancária

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