Quando o banco age como cooperativa e a cooperativa age como banco, por Marcelo Vieira Martins

Quem me conhece sabe que sou um apaixonado pelo cooperativismo, onde atuo há mais de duas décadas. Não há atividade humana que respeite tanto a liberdade individual, já que o resultado de uma cooperativa retorna a cada cooperado proporcionalmente à sua aposta nela, e ao mesmo tempo promova a equidade, pois uma cooperativa é de todos os cooperados em peso igual.

Quem convive comigo sabe ainda que sou um fã declarado do retorno social das cooperativas. São engrenagens produtivas baseadas no verbo cooperar e capazes de produzir riqueza, mas que também a distribuem. Este, aliás, é um dos sete princípios do cooperativismo: o interesse pela comunidade. Melhorar o entorno onde estão inseridas é algo que as cooperativas fazem bem no mundo inteiro há quase dois séculos, tanto é que onde a atividade é forte o desenvolvimento humano é maior.

Mas quem me acompanha de perto conhece a minha visão crítica quanto à forma como o cooperativismo se comunica. Há um descompasso de percepção entre quem está dentro e quem está fora do movimento. É como se tudo o que escrevi nos dois parágrafos acima fosse desconhecido para muita gente – ouso dizer, para a maioria da população no país.

Tomemos como exemplo um setor que conheço bem: o financeiro. É comum a gente ver em propagandas os bancos exaltando os seus programas sociais ou o seu engajamento com a pauta do futuro – e que bom que o fazem, pois assim o banco age como uma empresa responsável. Seja apoiando programas de sustentabilidade, promovendo a leitura para crianças, defendendo a diversidade ou disponibilizando bicicletas nos centros urbanos, lá está um gigante do setor dizendo em alto e bom tom: eu ajudo a melhorar o mundo.

Em contrapartida, tenho observado atentamente o diálogo de muitas cooperativas de crédito com o seu público, e o que vejo? Uma comunicação preocupada em mostrar que o juro é mais baixo, o portfólio de investimentos é diversificado e a tecnologia à disposição do cliente é tão avançada quanto a dos bancos. Ou seja, uma cooperativa que no seu DNA traz gravado o princípio da responsabilidade social, e que melhora o mundo através de um trabalho secular, acaba dizendo: sou tão eficiente quanto um banco.

A meu ver, as cooperativas precisam repensar os esforços em comunicação e, em especial, a estratégia adotada. No Brasil, um estudo da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) comparou o índice dos municípios com e sem cooperativismo e comprovou: a média do Índice de Desenvolvimento Humano das cidades com cooperativas é de 0,701, enquanto aquelas sem cooperativas tiveram um resultado médio mais baixo, de 0,666. Entre as 100 maiores empresas do Sul em 2020, segundo levantamento do Grupo Amanhã, 20 delas são cooperativas.

Comunicação não é o que se diz, é o que se entende. Na arte de comunicar o nosso propósito, precisamos ser tão bons quanto produzimos.

Fonte: economiasc.com

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