Cooperativismo, cidadania e justiça financeira, por Ênio Meinen

As cooperativas, até mesmo em razão do viés social e da ausência de lucro entre os seus objetivos, são o instrumento ideal para introduzir no mercado financeiro um expressivo contingente de brasileiros, de baixa renda, sem esse acesso elementar. Segundo dados divulgados pelo Instituto Locomotiva, em 2021 (abril) havia cerca de 34 milhões de desbancarizados entre nós, metade deles situados na faixa entre 16 e 34 anos.

Além da população totalmente destituída de produtos e serviços financeiros, tem aqueles subatendidos, com direito a apenas um ou outro item do portfólio bancário, invariavelmente de reduzido ou nenhum risco para os bancos e outros agentes mercantis. Por fim, existem os que clamam por um relacionamento mais digno e justo, aí incluído o pequeno negócio.

Ou seja, há um grande espaço para a verdadeira inclusão financeira, o que significa, de um lado, oportunidade de expansão para o negócio cooperativo e, de outro, exercício da cidadania financeira e progresso para os indivíduos e empreendedores excluídos ou não plenamente contemplados.

Sempre comprometidas com a sua gente, as cooperativas financeiras são também instrumentos de mitigação da desassistência bancária em épocas de adversidade. A afeição que qualifica a relação societária entre essas entidades e os seus públicos, ausente no contato entre bancos e fintechs com os seus clientes, associada aos alicerces doutrinários que sustentam o movimento, fazem com que as cooperativas, naturalmente, assumam grande protagonismo nesses intervalos, notadamente pela assistência creditícia, cumprindo, assim, importante papel contracíclico.

Durante o flagelo da pandemia de Covid-19, por exemplo, as cooperativas financeiras, honrando o seu ideário, desde o princípio acolheram e abraçaram os cooperados e as suas comunidades, provendo soluções voltadas ao enfrentamento da doença, à resiliência econômica dos seus membros e à mitigação de privações básicas dos mais vulneráveis. Ou seja, em mais um momento crítico o cooperativismo financeiro dá resposta tempestiva e adequada.
Essas virtudes, entre outras, aliadas ao desempenho substantivo e consistente dos últimos anos, nos legitimam a celebrar o Dia Internacional do Cooperativismo de Crédito e dão concretude às aspirações da sociedade sobre um modelo de atendimento financeiro mais convergente com os interesses da coletividade.

Enfim, o vanguardismo da proposta cooperativista, ancorada no compartilhamento da propriedade, do capital, da gestão e do resultado; menos extrativista; mais colaborativa e inclusiva; equânime e verdadeiramente sustentável, habilita as cooperativas como instituições a fazerem cada vez mais a diferença na vida financeira dos indivíduos e de suas empresas, cuja escolha impacta, ainda, um conjunto de outras variáveis socioeconômicas relevantes nos respectivos territórios.

Ênio Meinen é Diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob.

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