Elas na liderança: as mulheres por trás do sucesso das cooperativas

Apesar dos números de mulheres nas lideranças das cooperativas serem pequenos, elas avançam nesses postos e se mostram dispostas a aumentarem as estatísticas

Os números são promissores quando o assunto é mulheres no cooperativismo! Apesar dos dados indicarem uma porcentagem de apenas 40% de cooperadas dentro do movimento no Brasil, algumas regiões do país registraram um aumento significativo na participação feminina nos cargos de liderança em suas cooperativas, como é o caso do Espírito Santo, segundo os dados do Anuário de Cooperativismo de Capixaba de 2023.

No Estado, a cada dez diretores ou gerentes de cooperativas, três são mulheres. A presença feminina nesses cargos aumentou 5,2 pontos percentuais em 2021, se comparados a 2020. Focando em funcionárias dessas cooperativas, o aumento foi de 59,7% nos ramos de consumo, crédito, infraestrutura, saúde e transporte. E 50% nos setores de bens e serviços.

Fora das cooperativas, as mulheres também tem feito grandes conquistas quando estão em posição de liderança. Segundo um relatório divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2019, 75% das empresas com chefes femininas melhoraram os seus rendimentos nos negócios. Entretanto, a grande maioria dos cargos de liderança ainda são ocupados por homens.

Tais dados otimistas fazem parte de um panorama atual, mas representam muito mais que isso! São o resultado de muita luta por espaço e de um reconhecimento merecido. Esse que é reforçado mundialmente no dia de hoje, 8 de março, Dia Internacional das Mulheres.

Reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data comemorada há mais de um século tem suas origens longe de celebrações, sendo marcada por fortes movimentos de reivindicação política, trabalhista e, principalmente, por direitos igualitários entre mulheres e homens.

Para homenagear esse marco, contribuir com essa pauta e incentivar o destaque de importantes vozes, conversamos com mulheres que fazem a diferença em suas atuações através do cooperativismo. São protagonistas cooperativistas que trazem sua visão sobre representatividade, desafios e diferenciais das cooperativas em seus diferentes ramos e o apoio do movimento na trajetória de suas vidas – pessoais e profissionais!

Aureliana Rodrigues Luz é cooperada há muitos anos, desde a década de 90. Ela conta que sempre foi envolvida com o cooperativismo em suas mais abrangentes ações. “Fui me tornando cooperada, assumi funções de conselho, participei ativamente de reuniões de alinhamento rumo ao desenvolvimento do cooperativismo no Maranhão. Antigamente havia interferência governamental, mas assim que o cooperativismo se tornou livre e desembaraçado eu comecei a ser representante da causa e tomar frente de decisões, organizar a casa da forma que aprendi, com transparência e profissionalismo, no começo houve muitos desafios devido o engessamento oriundo da resistência às mudanças, mas em seguida conquistei a confiança e apoio na gestão o que me tornou ainda mais bem-sucedida nessa empreitada”, relata Luz.

Em sua trajetória no cooperativismo teve que lidar com alguns obstáculos, entre eles o de convencer a equipe de fazer as melhores escolhas. Ela conta que as pessoas precisam de líderes que trabalhem efetivamente no rápido desenvolvimento e que não desanimam. “São essas as pessoas que têm a capacidade de se comprometer com uma causa maior e possuem valores congruentes com sua curiosidade, habilidades de pensamento crítico, senso comum, habilidades de relacionamento, o risco, a tolerância e até mesmo o machismo. Há muitas mulheres dominando o mercado, o público feminino tem ganhado espaço e vêm crescendo significativamente. Eu diria que uma mulher de visão precisa aprender sempre e sobre várias coisas. Saber competências pessoais, competências organizacionais e da capacidade para fazer boas perguntas, mesmo que não saibam as respostas às mesmas. Os grandes líderes são capazes de ver as tendências que as outras pessoas não conseguem discernir, de ver a grande imagem, de fazer perguntas, de estabelecer um objetivo e de fazer com que as pessoas tenham o mesmo objetivo comum, e de celebrar o sucesso ou de repensar e reformular rapidamente”, finaliza Luz.

Reginy conta que a Coopertres se originou a partir da união de transportadores autônomos da região de Viana/ES. “Apesar de estar devidamente registrada, começamos a operar efetivamente em setembro de 2021, devido a pandemia da COVID-19”, lembra Silva.

Ela conta que na cooperativa, nunca se sentiu mal por ser mulher, em especial, por ter sido criada no meio de caminhoneiros. “Mas, quando saímos de nosso local de trabalho, surgem algumas restrições de outras lideranças cooperativistas ou mesmo em outros locais. Neste momento é necessário se posicionar de forma mais enérgica para termos aceitação e visibilidade. Quando se fala em liderança, automaticamente ligamos ao trabalho masculino, mas isto, vem mudando de forma lenta e gradativa”, relata a presidente da Coopertres.

A presidente relata que no início surgiram alguns momentos de desanimo, mas a persistência foi maior, em especial, porque o grupo fundador confiava muito no meu trabalho, não deixando que isto me afetasse. “Trabalhar demonstrando competência em situação de igualdade supre o machismo, em especial, porque como mulher consigo desenvolver algumas habilidades em momentos mais conturbados”, lembra Reginy.

Drayze conta que a Coopesg está comemorando os seus 30 anos de fundação nesse ano. “Estamos na presidência da cooperativa educacional desde 2015. Ela começou com a ideia de alguns pais na busca por uma melhor qualidade de ensino para os filhos”, conta Rigo.

O sucesso da cooperativa ser liderada por uma mulher segundo Piske são três: “Ouvir os desejos e necessidades dos cooperado, manter um modelo de gestão onde todos, cooperados e colaboradores se sintam motivados a conquistar grandes resultados e contar com a parceria de conselheiros comprometidos. É fundamental tomar posse com responsabilidade o papel que lhe é atribuído pelos próprios cooperados, sem se esconder atrás de uma falsa percepção de fragilidade ou incapacidade em razão de gênero”, indica Teodoro.

Rigo relata que esse ramo não é fácil, produz resultados a longo prazo. “Muitas vezes o gestor e sua equipe, deseja colher imediatamente os frutos do trabalho realizado, mas a experiência nos ensina a observar os pequenos sucessos que ocorrem todos os dias no desenvolvimento dos educandos e a se alegrar e motivar com cada um deles”, finaliza.

Micheli conta que a Coomafitt começou em 2006 com a união de 26 apicultores no município de Itati, logo após os agricultores entenderam que seria melhor ter uma produção diversificada com a participação de outros municípios, como Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas. “Os desafios foram vários, pois não tinha mercado constituído, estrutura e nem equipe de trabalho. Só com o tempo conseguimos isso, hoje temos 270 associados. Não existe segredo foi muita luta mesmo, no início quando iniciei como coordenadora de produção senti muita resistência por causa do machismo, mas depois as pessoas vão entendendo, tudo que é novo assusta”, relata Jacoby.

Angelita entrou no universo das cooperativas aos 20 anos, ingressando na função de caixa, por ocasião da fundação da CrediFred (1993), uma das cooperativas que deu origem a atual Sicredi Conexão. ‘Em 1998, fui promovida a Gerente de Agência, sendo a primeira mulher na Cooperativa a exercer este papel. Gradativamente fui galgando funções como Diretora de Operações, Vice-Presidente e, efetivamente a três anos, exerço a posição de Presidente do Conselho de Administração”, conta Marisa.

A Cooperativa surgiu em 1981, pelas aspirações de 20 pequenos agricultores de Rodeio Bonito/RS, que buscavam melhores condições de acesso ao crédito, visando viabilizar as propriedades rurais e melhorar a qualidade de vida das famílias. “Os ambientes de alta liderança nas organizações, ainda se apresentam muito masculinos, mas acredito que é uma caminhada, e isso não pode ser motivo de desânimo para as mulheres. Isso nunca me afetou, pelo contrário, me motivou a investir na inteligência emocional e evolução de crenças pessoais. Em minha opinião, toda polarização não é saudável, nem machismo e nem feminismo, o ideal é o equilíbrio de oportunidades, que contemple valores, competências e habilidades e, não simplesmente “gênero”. Sendo assim, não tem segredo para uma mulher se manter na liderança, desde que invista em uma cultura organizacional que valorize a equidade de oportunidades e seja genuinamente vivenciada. Confesso que me sinto privilegiada em atuar em uma cooperativa que sempre se esmerou em primar pela inclusão, mitigação de preconceitos e promoção do respeito e valorização da individualidade das pessoas. Acredito que minha trajetória de carreira na instituição diz muito sobre isso. A liderança é uma competência muito alinhada com a essência feminina, pois exige sensibilidade, empatia, afetividade e efetividade. Sendo assim, enquanto mulheres, precisamos nos apresentar frente aos desafios e oportunidades. Somos fortes sem perdermos a sensibilidade. Mulher “empoderada” é aquela que tem o poder da escolha, que empreende, se autoconhece e desenvolve. Temos poder de decidir quem somos e o que queremos fazer”, finaliza Cadoná.

Renata é cooperada há 20 anos, começou a cooperativa com 45 sócios, no Município de Afonso Claudio, no Espírito Santo. “Iniciamos pelo fato de trabalharmos para uma empresa que recebia o valor por km rodado e repassava um valor menor para nós, sendo que todos os custos eram por nossa conta e não era recolhido os impostos necessários de nós. Por isso juntamos grupos de pessoas e fundamos a COOPTAC, na época eu não fazia parte como sócia efetiva, pois não tinha idade, mas a minha mãe participava ativamente, eu estava presente nas reuniões e achava um máximo. Comecei como conselheira fiscal ano 2007 e ano 2008 entrei como diretora secretaria, hoje estou como vice-presidente dessa cooperativa que tenho muito orgulho”, relata Eller.

Ela conta que o segredo ter de fazer uma boa liderança feminina é ter persistência, dedicação e amor pelo que faz. “Foi difícil em vários momentos, o que me fortalece sempre é perseverança e amor que tenho pelo cooperativismo, é uma força maior. Desanimo e machismo sempre vão existir, mas não podemos deixar ele dominar ou criar fantasmas na cabeça, temos que sermos firmes e seguir com propósito de cooperar, ajudar a multiplicar as rendas familiares, assim as pessoas têm prazer de estar conosco como cooperado e ser dono seu próprio negócio. Isso é muito gratificante”, reforça Costa.

De olho no cooperativismo

Preocupada com o número reduzido de mulheres nas lideranças das cooperativas, Priscila Osike resolveu fazer uma pesquisa sobre o tema em 2020.

A pesquisadora conta que o estudo foi idealizado para entender o número reduzido de mulheres em diretorias de cooperativas de saúde em 2020. “Somente 8% dos cargos diretivos eram ocupados por mulheres em 2020, 104 mulheres em um total de 1284 conselheiros. O propósito era verificar os fatores que levavam à baixa participação feminina em cargos de gestão”, exemplifica Osike.

A pesquisa de Priscila entrevistou 26 pessoas, sendo 54% homens e 46% mulheres, em que foram apresentadas duas possíveis hipóteses: a relação entre o trabalho e questões familiares e o enfrentamento de dificuldades e discriminação. “Durante o estudo realizado, abordei outra hipótese: a falta de disponibilidade das médicas mulheres ao trabalho administrativo. Por meio de entrevistas com diretoras de cooperativas paranaenses, as quais relataram que, no geral, ainda há pouco interesse, tanto de homens quanto de mulheres, em assuntos de gestão: “Toda vez que você convida uma colega médica para fazer parte do setor administrativo, há muita resistência”, relata uma das entrevistadas ao artigo”, conta Osike.

Foram realizadas entrevistadas online utilizando Google meet ® com cinco mulheres, 3 médicas que ocupam atualmente a presidência de cooperativas de saúde e 1 ocupa uma diretoria em dois estados do Brasil e uma consultora em gestão que trabalha com médicos cooperados há 14 anos.

Também foram enviados formulários duas perguntas chaves para médicos e médicas cooperadas, com o objetivo de saber por que o número de mulheres nas diretorias é tão reduzido e o que poderia ser feito pelas cooperativas de saúde para atraírem as mulheres a ocuparem cargos de gestão. O formulário foi respondido por 26 pessoas, sendo 54% homens, na faixa etária entre 38 e 76 anos e 46% mulheres, entre 38 e 61 anos. “A Hipótese 1: A minoria feminina está relacionada a questões familiares. A hipóteses foi corroborada de forma parcial, pois outros fatores apareceram no estudo, como falta de interessa das mulheres e número maior de médicos cooperados. Além da hipótese, verificou-se ainda que há fatores atribuídos à cultura e à diferença entre gerações. Já a hipótese 2: As mulheres que atingiram cargos de liderança passaram por dificuldades e discriminação. Esta hipótese foi corroborada parcial, pois algumas mulheres que exercem cargos de diretoria ou presidência, afirmaram não ter passado por dificuldades e discriminação, que o caminho foi natural”, explica Priscila.

Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop

Fonte: mundocoop.com.br

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