Sobre liderança organizacional: o velho e o novo!, por Ênio Meinen

É consenso de que o comportamento da liderança é um dos fatores determinantes do bem ou mal-estar no ambiente organizacional.

Partindo de minha experiência, observações e pesquisas, compartilho algumas ponderações sobre a figura do líder organizacional contemporâneo, sem o ânimo de sobrepor-me a outras opiniões a respeito do tema ou mesmo de pretender que as impressões esgotem a matéria ou, ainda, que sejam de todo procedentes. Não tenciono, enfim, ser editor corporativo ou de governança. Do ponto de vista pessoal, trago apenas a credencial do relacionamento histórico com os meus próprios times.

É bem provável que durante o contato com este conteúdo você identifique personagens, normalmente mais próximos, que reúnam esta e aquela características, sejam tidas como meritórias ou censuráveis, podendo, assim, fazer o seu próprio julgamento.

Parto de uma perspectiva crítica, convicto de que não são raros os gestores que ainda se valem de métodos ortodoxos, associados ao poder encerrado neles só. Os que assim se posicionam, contudo, têm cada vez menos apreço, e as organizações que eles comandam habitualmente vão mal ou, no mínimo, as pessoas que nelas trabalham não estão felizes.

Com efeito, andam em desprestígio – e cada vez mais distantes da verdadeira liderança – os administradores que ainda monopolizam as ações e, especialmente, as atenções e os créditos; exigem atitudes sem correspondê-las em reciprocidade (reportes, fidelidade e lealdade, entre outras); impõem unidade de estilo ou outorgam prerrogativas para quem pensa ou age igual; não dialogam, não escutam (até ouvem) e não cedem.

Da mesma forma, os dominados pela vaidade – representada pela sede de poder e necessidade de reconhecimento – e pelo egoísmo – evidenciado pela máxima presença do “eu” (eu fiz; eu pedi; eu mandei; …, sou o melhor) em detrimento do “nós”.

Consta que certa vez, conversando com Madre Teresa de Calcutá, o Papa João Paulo II mencionara que o “valor do homem é inversamente proporcional ao grau de ligação com o ego”. Já Bernardinho, um dos líderes esportistas mais vitoriosos do Brasil, teria sentenciado que “a vaidade é inimiga do espírito de equipe.”

Ou seja, o líder deveria ser invisível, e o seu ego, inversamente proporcional aos valores que propaga.

Soma-se a isso, a incapacidade de lidar com o sucesso alheio, principalmente de colegas e pessoas mais próximas. Sim, a inveja também acompanha muitos dos ocupantes de cadeiras centrais nos órgãos superiores de governança, sejam estratégicos ou executivos, o que igualmente mina a saúde organizacional. Essa manifestação de fraqueza, por sinal, há muito permeia o convívio entre os homens. No Séc. V a.C., Ésquilo (poeta grego, considerado o 1º dramaturgo europeu) já anunciava que “raros são os homens dotados de bastante caráter para se regozijarem com os sucessos de um amigo sem uma sombra de inveja”.

No novo momento, em que prevalece a perspectiva ético-humanista e está em voga a agenda ESG, as características desejáveis são de outra ordem (opostas, pode-se dizer). Líder autêntico é aquele que, ao se colocar ao lado ou à disposição dos liderados, consegue o estágio máximo de motivação e participação. É o que faz a informação permear todos os níveis da organização, potencializando iniciativas em todos os colaboradores. É aquele que sabe dialogar, argumentar e negociar, cedendo muitas vezes para que se alcance a adequada resolução. É o que em nenhum momento precisa invocar os favores da ordem formal ou do cargo.

Essencialmente, o líder hoje prestigiado como tal é o que reúne atributos de caráter. É o que joga aberto, limpo. É transparente, verdadeiro e comprometido com os legítimos propósitos da organização. Leal, flexível, respeitador, solícito e solidário, seja com os liderados, seja com os pares e demais públicos de relacionamento.

É o administrador que sabe escutar (e não apenas ouvir), o humilde. Ao soberbo – o famoso “sabe tudo” –, é cada vez mais sonegado o conhecimento, especialmente no giro tácito e nos intercâmbios, pois os interlocutores não têm o menor interesse de ajudá-lo compartilhando informações.

Pode-se também identificar no líder real a simplicidade e a postura cooperativa. Ele admite que sozinho pouco ou nada faz. Conta com a energia e a inspiração do grupo. Ele também não tem o costume de autopromover-se, ou promover-se à custa do talento alheio. Ao contrário, coloca em evidência os colegas ou liderados autores da iniciativa, alegra-se com o sucesso da equipe e com ela procura compartilhar o mérito das conquistas! Que deixa a vaidade, o egoísmo e a inveja de lado. Utiliza pouco o eu e muito o nós, elevando a importância da equipe. Sabe, enfim, reconhecer e promover.

A respeito, ainda, da valorização da equipe como atributo desejável de liderança, Warren Bennis (reputado psicólogo, professor de administração e conselheiro de quatro presidentes norte-americanos, conhecido como “profeta da liderança”) traz importante contribuição, ao defender que: “bons líderes fazem as pessoas sentir que elas estão no centro das coisas, e não na periferia. Cada um sente que ele ou ela faz a diferença para o sucesso da organização. Quando isso acontece, as pessoas se sentem centradas, e isso dá sentido ao seu trabalho.”

Considerando que essas características, contrapostas, sugerem que de um lado há chefe e, de outro, líder, pode-se traçar o seguinte quadro-resumo do perfil de cada um:

Dito isso, podemos ver no líder autêntico aquele que consegue aglutinar esforços, elevar os resultados dos seus times e perpetuar a organização:

  • Tendo a capacidade de obter progressos organizacionais por meio de seus pares e liderados, levando-os a atingir ou mesmo superar os objetivos traçados;
  • compartilhando conquistas, inspirando e flexibilizando estímulos com a valorização das diferenças de cada componente da equipe;
  • estimulando o trabalho em equipe e descentralizando a condução, de modo que todos possam participar da construção dos melhores resultados;
  • identificando nos seus pares e, com eles, no restante da equipe, os profissionais com potencial de crescimento, dando-lhes adequadas condições de desenvolvimento;
  • removendo pedras, construindo pontes e energizando o time (tenho especial apreço por essas atitudes!);
  • preparando sucessores, iniciando por seu próprio posto.

Em síntese, do líder de verdade espera-se, sobretudo, que dê o exemplo, que demonstre pela obra o que apregoa pela palavra!

Ênio Meinen, autor de “Cooperativismo financeiro na década de 2020: sem filtros!” [ed. Confebras, 2a edição/atualizada em 2023]

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