Protagonismo e intercooperação são o futuro do cooperativismo segundo CEO da WOCCU

Com mais de 20 anos de experiência em organizações líderes na prestação de serviços financeiros às comunidades carentes em diversos países, Elissa McCarter LaBorde atua como presidente e CEO do Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (WOCCU) desde agosto de 2021.

Sendo uma das mais importantes figuras representativas do cooperativismo de crédito atual, Elissa é casada, possui três filhos e segue como uma grande incentivadora do encorajamento feminino, incentivando mulheres a transformarem suas realidades por meio da autoconfiança, da liderança e da atuação nas cooperativas. Além disso, é uma forte defensora do protagonismo jovem nesse novo momento que o cooperativismo se encontra, onde a necessidade de se reinventar, evoluir e continuar expandindo se torna recorrente.

A visão da CEO se entrelaça com os caminhos que o movimento busca traçar atualmente e, principalmente, com o futuro. Pautas como inclusão, digitalização, sustentabilidade e uma maior utilização da rede internacional que une as cooperativas de crédito do mundo inteiro, conectando diferentes culturas, estão sempre em seus discursos inspiradores!  Ainda, no início de 2023, esteve no Brasil e o cooperativismo nacional entrou definitivamente em seu radar, conquistando sua admiração.

Pensando em conhecer ainda mais essa brilhante perspectiva sobre questões importantes para as cooperativas brasileiras, a equipe MundoCoop conversou com exclusividade com Elissa McCarter!

Confira!

Você considera que o movimento financeiro cooperativista daqui tem potencial para se tornar uma referência global?

Desde que entrei para o WOCCU tenho ouvido muitas histórias sobre a possibilidade de o sistema de cooperativas de crédito brasileiro ser o mais vibrante e progressivo em todo o mundo.

Depois de passar uma semana no Brasil e ter reuniões, não somente com executivos do Sicredi, mas também com as mulheres e jovens que trabalham nas cooperativas de crédito e com membros de tais instituições que foram convidados para participar da Super Summit Sicredi 2023, posso dizer que eles têm algo especial que precisamos levar ao resto do mundo.

O investimento do sistema cooperativista financeiro em diversidade, igualdade e inclusão, finança sustentável e construção de comunidades resilientes através de suas associações de crédito é motivante. A Conferência, onde eu tive a honra de falar a diversos membros e colaboradores, em abril, é uma demonstração impressionante de colocação daqueles assuntos em ação.

Pensar na continuidade do sucesso das cooperativas é uma das grandes preocupações atuais. Dialogar com a nova geração e promover a diversidade é o caminho a seguir? Por que ainda há uma dificuldade para incluir esses grupos?

Pessoas com menos de 30 anos, como grupo, são um tipo totalmente diferente de consumidor de qualquer geração anterior. Eles comunicam e aprendem de forma diferente, eles buscam notícias e informações em redes sociais em vez de nos canais tradicionais e estão mais acostumados com interfaces digitais do que com interações pessoais físicas em muitos casos.

Eles fazem compras ou realizam transações bancárias com um ou dois cliques em um dispositivo móvel. Portanto, como cooperativas de crédito, não podemos esperar que os modelos antigos funcionem. Precisamos encontrá-los onde estejam com um design humano centralizado e interfaces intuitivas de clientes com soluções digitais, assim como precisamos comercializar nossos produtos e serviços de forma que converse com eles.

Porém, também precisamos enfatizar algumas das coisas que eu falei anteriormente – sobre o que fazem as cooperativas de crédito únicas e especiais.

Comparados a gerações anteriores, jovens adultos hoje estão interessados em questões sociais e ambientais, estão mais propensos a fazer trabalho voluntário, querem fazer parte de algo que realmente importe e usar seu tempo de forma valorosa. Eles têm grandes expectativas do mundo e de nós. Eles são críticos e exigentes. Nós, ‘da geração antiga’, podemos reclamar sobre isso, ou podemos abraçá-los como clientes que abrem uma nova possibilidade para que as finanças cooperativas sejam conduzidas por esta nova energia e responsabilidade para a próxima geração.

Para fazer isso, precisamos encontrar maneiras de nos conectarmos com eles, para mostrar que somos instituições mais inclusivas, mais comprometidas com a missão social e com os serviços públicos e que oferecem uma forma alternativa de acumular patrimônio e reinvestir.

A comunicação segue como um dos grandes desafios das cooperativas, principalmente aqui no Brasil. Como combater o desconhecimento de forma efetiva?

É um problema que vemos em todos os lugares, até mesmo nos Estados Unidos!

Como podemos fazer com que as pessoas percebam que as cooperativas de crédito oferecem uma alternativa e são um modelo mais solidário para serviços financeiros do que bancos e fintechs? Acredito que a mensagem que deva ser comunicada é que as cooperativas estão em nossas comunidades e elas enxergam você nos momentos difíceis quando outras instituições não o farão.

Estamos democratizando as finanças para todos e nivelando o campo de atuação, colocando o poder do dinheiro e as tomadas de decisão de volta nas mãos das pessoas em vez de nas mãos de investidores estrangeiros ou de grandes acionistas corporativos. Também acredito que precisamos mostrar que, em tempos em que há tantas coisas que nos dividem, as finanças cooperativas na verdade unem as pessoas.

O Sicredi é um grande exemplo disso na forma como trabalham através de suas Mulheres e Comunidades Jovens para encontrar os membros onde estejam e para resolver os problemas que seus membros priorizam em suas próprias comunidades.

Qual o papel a intercooperação na construção de um ecossistema mais inovador para as cooperativas? Por que esse princípio está se tornando cada vez mais necessário e urgente no movimento?

Thomas Belekevich, Diretor de Serviços da WOCCU, gosta de dizer que “nossa rede é nosso patrimônio líquido.” Acredito que o Conselho Mundial tem demonstrado o quão importante é para as associações de crédito, por exemplo, trabalhar em conjunto e aprender uns com os outros formas de melhorar seus próprios produtos e serviços.

No começo deste ano, por exemplo, o Conselho Mundial participou da assinatura de um memorando de entendimento em DaeJeon, na Coreia do Sul, que prepara o caminho para a Federação de Associações de Crédito Nacional da Coreia (NACUFOK) para fazer parceria com a Confederação Caribenha de Associações de Crédito (CCCU) para a realização de uma avaliação técnica e de aprendizado orientada à melhoria dos serviços financeiros digitais através de associações de crédito em toda a região Caribenha.

Isto não acontece sem o tipo de intercooperação sobre a qual você está falando! Mas não tem que ser intercooperação apenas entre sistemas de associações de crédito.

Em junho, representantes do Projeto de Tecnologia e Inclusão do Conselho Mundial para Inclusão Financeira (TIFI), fundado pela USAID (Agência Americana para Desenvolvimento Internacional), participaram da Conferência Cooperativa Ministerial da África, em Nairobi, Kenya, organizada pela Aliança Cooperativa Internacional (ICA) da África. Esta conferência reuniu representantes de diversos movimentos cooperativos com o objetivo de estabelecer uma melhor identidade para a indústria cooperativa na África através de intercooperação mais contínua.

Você poderia deixar um recado para as instituições financeiras cooperativas brasileiras?

Continuem a fazer o que estão fazendo e não esmoreçam. Continuem a jornada por e para seus membros – para servir a eles e às suas comunidades. Está avançando com soluções progressivas aos problemas de nossos dias que frequentemente parecem intratáveis.

Quando podemos incluir todas as vozes nesta jornada, quando podemos falar sobre o assunto de forma aberta e apaixonada, é assim que lideramos o mundo com a finança cooperativa!

Por Fernanda Ricardi – Redação MundoCoop

Matéria exclusiva publicada da Revista MundoCoop Edição 112

Fonte: mundocoop.com.br

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